O Lambão de seu nome completo Agripino Silveira Louro nasceu, segundo reza a sua certidão, numa aldeia ali para os lados de Lafões.
Ao certo não se sabe a sua data de nascimento, pelo simples facto de ter caído, no preciso local do registo, um borrão de vinho tinto que, logo apagou, para sempre, tal inscrição.
Agripino mais conhecido por Lambão pelo seu porte baixo, aterracado e gordo que mais se assemelha a um garrafão de vinho. Desde muito cedo evidenciou o seu gosto pela gula insaciável.
Já na escola primária, Lambão devorava o pão de centeio com geleia que a mãe lhe ponha na sacola e, ainda se abotoava com a merenda dos colegas. Todo o apetite voraz de Agripino levou-o a construir o porte de garrafão. Daí o epíteto de Lambão.
Lambão é um epagneul descendente de pequineses que foram enviados para o tibete e de onde surgiu a linhagem do Lambão que, por razões ainda não devidamente explicadas veio parar à Ibéria. Dizem os entendidos que a linhagem de serapilheira terá vindo com os bárbaros Celtas.
Daí as características sanguinárias do Lambão.
Lambão é sanguinário. Bebe o sangue das vítimas e expele de seguida o mais sebento dos arrotos, sabugos e que misturado com o hálito podre da dentuça, faz lembrar cano de esgoto.
Defende ferozmente o seu osso e, procura abocanhar sempre mais e mais para se banquetear numa lambuzadela de molhos que escorrem pelos cantos da boca.
Sisudo quando se prepara para a caça ao osso, Lambão aguça o focinho para, utilizando as características de furão a esfuracar a lama onde procura o apetecível manjar.
Agripino tem um defeito físico: é marreca. Só que esconde de todos tal maleita e, quando é caçado disfarça com o facto de não ter pescoço. Logo, Agripino move-se encolhido e, esconde dessa forma a marreca.
Além desse defeito físico, Agripino não urina como os outros humanos. Alça a perna a toda a hora, em especial quando passa por um poste da luz.
Lambão tem como amigo, um canino rafeiro, que dá por nome de Lêndeas.
Lêndeas, assim conhecido pelo pouco cuidado na higiene pessoal, sempre seboso e repleto de piolhos.
Lêndeas e Lambão tudo ameaçam.
Rapinam tudo o que lhes aparece.
Acham-se os maiores e, os donos do mundo cão.
Presenteiam-se com salamaleques e iguarias conseguidas com o sangue e suor dos paroquianos que tudo pagam para os galantear.
Mas, só esses emolumentos não chegariam se para Lambão e Lêndeas gozarem a vida sem nada fazerem.
Para que, mais alguma coisa caia no prato da sopa dos parasitas, têm ainda o beneplácito régio do dono do quintal. O Pentes tudo faz para agradar ao Lambão e ao Lêndeas, pois se não fizer sujeita-se a ficar sem o osso para brincar.
Lambão, Lêndeas e o Pentes vão parasitando das esmolas conseguidas aquando das romarias da nossa senhora do coito.
No cerimonial patético da romaria cada um dos três da vigairada, sentam-se nos respectivos tronos, são passeados aos ombros e, incensados pelos submissos, resignados e insolentes acéfalos que em tudo acreditam e, crêem no poder miraculoso da trindade paternalista.
Ámen à divindade, gritam os lacaios servidores!!
Até à eterna paz dos pobres de espírito, deles será o reino dos incompetentes e dos abéculas.
Qualquer semalhança entre este conto e a realidade é mesmo e só, imaginação pura de mentes perversas.