A Nova história da desgraçadinha no desgraçado País Luso
Ano da desgraça de 2010
Foi às cinco da manhã
Que o Chico de Campanhã
Matou a Rita à facalhada
Quando o polícia o prendeu
Ele não se arrependeu
Disse não ter sido nada.
Crime igual foi cometido
Nunca tal acontecido
Por governo socialista
O Povo que nele votou
Bem depressa abandonou
Igual coisa nunca vista
Sócrates pézinhos de lã
Cada dia promessa vã
Lá vai levando a mau porto
Uma nau despedaçada
Tripulação desesperada
Um governo que é um aborto
Aquilo que o povo diz
Na verdade dos carris
Onde andava o pouca terra
E que nos traz à lembrança
Um tempo sem abastança
Um grande mistério encerra
Hoje triste e abandonado
a tal tristeza votado
com gente desesperada
na fome que aparece
Voz do povo numa prece
Essa verdade é vedada
Digam lá o que disserem
Pensem lá o que quiserem
Isto aqui anda sofismo
Há muito quem torça a orelha
Por terem feito parelha
C'o palavra socialismo
A SIC do Balsemão
No meio da confusão
Vai entrando na urdida
Aos êxitos governamentais
Joga com os mesmos anais
Benzendo tanta fartura
Claro que a TVI
Que se vai rindo para si
Nos casos sensacionais
Transmite a meia verdade
Longe da realidade
No jogo dos anormais
E a nossa pública então
Que rica televisão
Voz do dono a ladrar
Diz o dito e o não dito
Da mentira sempre a andar
Falemos da imprensa escrita
Que verdade seja dita
Nada consegue esconder
Dá-nos com prato forte
Em cada dia uma morte
Na vida que vamos ter
E da rádio nem falar
A palavra a estagnar
É prato do dia a dia
O que é preciso é saber
De como as botas lamber
Em toda a imensa agonia
É preciso que o capital
Nada possa levar a mal
Num País de podridão
Mas se falhar pagamento
Dos impostos em aumento
Não perdoam um tostão
Voltámos aos velhos tempos
Sem mais quaisquer contratempos
De Fátima, fados e bola
Por cá nos vamos fodendo
E os aumentos vamos tendo
E mais vazia a sacola
E então pergunta o Zé
Senhor ministro, como é,
A gente já não aguenta?
Resposta, tem sempre certa
Aguenta, Zé e aperta
Que a Europa nos contempla.
Faz lembrar um certo António
P'ra bem longe o demónio
Tudo fazia por amor
Que nos deixou, afinal,
Um tristinho Portugal
Que triste destino tem
É história mais que terrível
Um crime mais que horrível
Com final que já se viu
De um partido sem memória
Passando votantes à História
Vão p'ra puta que vos pariu
Comparando ambos os casos
Somos bem soldados rasos
Como o Chico de Campanhã
Ficamo-nos pelas latrinas
Vendo as imensas piscinas
Que nos mostram pela manhã
Venham história p'ra contar
Com os milhões a rolar
Na vida do puto Ronaldo
Pinto da Costa a protestar
Carolina a farolar
Misturados no mesmo caldo
Nas coisas do futenol
Pedra dura em água mole
De Norte a Sul do País
ficam famílias sem pão
Vivendo numa ilusão
De sermos Povo feliz
O que interessa é esquecer
O dia a dia a aquecer
Com a nova sensacionalista
Mesmo que haja fome em casa
Existe sempre uma asa
Misericórdias com lista
Vamos mas é protestar
Ainda há boca p'ra falar
E se nos possam prender
Seremos muitos milhões
E não haverá prisões
Onde nos possam meter.
Texto de Leandro Vale, para representação em teatro de rua, no próximo dia 7, em Barca d'Alva, no âmbito das diversas actividades que então a Asociación Camino de Hierro levará a cabo, associando-se à festa transfronteiriça da flor da amendoeira.
Esta representação vem na esteira da chamada literatura de cordel, divulgada nas feiras de outro tempo, onde um cego e um moço-de-cego cantavam desgraças, distribuindo (à espera da moedinha no chapéu) o folheto com a história impressa. Mas isso toda a gente sabe.
O convite está feito.
Que a revolta se manifeste pois teremos outras actividades, como exposição de fotografia, o "enterro simbólico das vontades institucionais" relativas à via-férrea, com direito a escultura sobre a sepultura, etc, etc.
Vem e, traz outro amigo!!!