quinta-feira, novembro 23, 2006

Irreal


Lisboa, 22 de Novembro de 2006, início de noite.
Numa sala a cheirar a naftalina, bolorenta, peões de fraque, pajens de paletó, damas da Real companhia bebericavam espumante Luís Pato e provavam reais canapés, enquanto aguardavam a apresentação do livro D. Duarte e a Democracia - Uma Biografia Portuguesa, de Mendo Castro Henriques.
Para fazer o elogio do biografado, a real casa convidou, pasme-se, o republicano confesso Manuel Alegre.
Dizia-se que era uma sessão de lançamento, mas sem direito a dedicatórias nem autógrafos.
O Dom Pio, explicou à plebe que, dado ser dia de aniversário da real mulher, Dona Inês Curvelo, não havia tempo para essas lamechices, do beijo no anel.
«Não posso(ele o Pio), sacrificar o convívio familiar. Já assinei e datei muitos exemplares. Quem quiser uma dedicatória faça-me chegar o livro mais tarde, por intermédio da Real Associação de Lisboa".
Dona Isabel de Herédia, sentada na primeira fila, sorriu e suspirou....
Ah! pois, isto de comunicar com o real Dom Pio não pode ser de outra forma que não seja através de uma Associação real. Os CTT são coisa da ralé.
D. Duarte, em breves palavras, evitou o proselitismo bacoco.
Já Castro Henriques aludiu à necessidade de "estarmos(eles) preparados" para a eventual restauração da monarquia. "Também quase ninguém previu a queda do muro de Berlim em 1989."
Aproveitem, vem aí o 8 de Dezembro.
Manuel Alegre, um dos chefes da Carbonária, certamente nunca imaginou, que o seu neto homónimo, haveria de fazer rasgados elogios ao herdeiro do trono português quase um século após a proclamação da República.
Alegre considerou que "a Pátria está acima da República ou da Monarquia".
Lembrou o avô materno, o carbonário, e o paterno, que "costumava atirar aos pombos com D. Carlos".
Abertura, já, da carreira de tiro!!! Pombos, patos e outros que tais, pois claro!
Alegre, elogiou as "causas" do Dom Pio, defensor dos "grandes temas da cidadania moderna e de um renovado conceito de patriotismo". E declarou: "Eu, que sou republicano, partilho muitos dos valores defendidos por D. Duarte." Porque é necessário "erguer Portugal acima dos interesses financeiros obscuros, contra o conformismo e o poder do dinheiro."
"Muito bem", "Bravo", "Apoiado" bradaram de imediato várias vozes.
A notícia não refere se o princípe das beiras, ou a infanta de Portugal ou o 4.º duque do Porto estiveram no lançamento!
Já agora que valores comunga Alegre com o real?
O dos tiros aos patos?
Patético!!!!
Entrou definitivamente em moda, os «adesivos» escreverem livros!!!
Será porque vem aí o Natal?
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Eh! pá não sei o que oferecer à vizinha do 2.º direito, que me acorda todos os domingos com a missa da TVI!!!
Já sei! Dou-lhe o livro do Pio ou o do Flopes.
Toma e embrulha!!!