A semana que findou trouxe-nos, a nível de condições atmosféricas, uma depressão que os cientistas batizaram de Cláudia.
Uma depressão que provocou muita chuva e ventos fortes. Esta tempestade varreu Portugal com fenómenos, nalgumas regiões de verdadeira catástrofe, com derrube de árvores a atingirem casas, carros e outros bens. E ainda a lamentar a perda de vidas humanas.
Uma tragédia.
Importa lembrar uma velha máxima ouvida muito, mas pouco ou nada praticada pelos vários poderes - as cheias previnem-se em tempo de seca e as secas em tempo de cheias. Todos os poderes, central e local, esquecem-se de preparar o futuro, nestas alturas como em época de incêndios. É o que temos e quem mais não sabe mais não se pode exigir.
Os cientistas têm alertado que fenómenos como a tempestade Cláudia resultam das alterações climáticas. Essas alterações são variações de longo prazo nos padrões climáticos da Terra, como temperatura e precipitação, causadas principalmente pela atividade humana, como a queima de combustíveis fósseis, que aumenta a concentração de gases com efeito de estufa na atmosfera. Estas mudanças estão a ocorrer a uma velocidade sem precedentes e têm consequências severas, incluindo o aquecimento global, eventos climáticos extremos, secas, inundações, incêndios, aumento do nível do mar e impactos negativos na biodiversidade e nos ecossistemas.
As inundações são o resultado da interação de fenómenos meteorológicos, como tempestades e chuvas, hidrológicos, como a capacidade de infiltração do solo e o escoamento superficial, e humanos, como a urbanização e a impermeabilização do solo. Ao mesmo tempo que em Portugal sofríamos com a depressão Cláudia, em Belém, no Brasil, acontecia a COP - a Conferência das Partes, sob a égide da Organização das Nações Unidas. Devia ser um órgão responsável por tomar as decisões necessárias para implementar os compromissos assumidos pelos países no combate à mudança do clima. Mas não o é nem nunca o foi. Os interesses económicos sobrepõem-se aos interesses do clima.
Esta COP, em Belém, no Brasil, já é a trigésima e como todas as anteriores será mais um falhanço. Será mais uma a não produzir nada de concreto. Como se pode atingir qualquer objetivo se nesta COP, no Brasil, faltam os países mais poluidores do mundo, Estados Unidos da América do Norte, China, Índia e Rússia? Como se pode obrigar qualquer um destes países a cumprir a defesa do planeta se não vão assinar qualquer compromisso?
Se o problema das alterações climáticas está na sua maioria ligado ao consumo das energias fósseis, quem pode aceitar que a COP em Belém, no Brasil, tem a maior concentração de grupos de pressão da indústria dos combustíveis fósseis numa COP? Já os originários da Amazónia são impossibilitados de participarem nas reuniões, nem a estarem presentes no evento. Como referiu o responsável pela área de Clima, Energia e Mobilidade da organização ambientalista Greenpeace, José Luis García Ortega a presença dos lobistas dos combustíveis fósseis na COP de Belém, é como convidar a indústria do tabaco a participar numa conferência sobre o cancro.
A história da COP remonta ao longínquo ano de 1988, quando foi formado o Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas, que se dedicaria a reunir avaliações científicas sobre as alterações climáticas. Este órgão das Nações Unidas publicou, em 1990, o seu primeiro relatório, no qual concluía que as emissões de gases com efeito de estufa, resultantes das energias fósseis, aumentavam e provocavam um aquecimento da superfície do globo. Na sequência, surgiu o apelo para a assinatura de um tratado global que colmatasse este problema. Dois anos depois, na Cimeira da Terra no Rio de Janeiro, lançou-se a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas. Em 1995, em Berlim, na Alemanha, aconteceu a primeira COP.
Como referem várias organizações mundiais ligadas ao ambiente durante 30 anos, as cimeiras sobre as alterações climáticas foram o palco ideal para as empresas petrolíferas limparem a sua imagem, fazerem negócios e encontrarem novas formas de se esquivarem face aos seus crimes ambientais. Hoje, em vez de fazerem a transição para sociedades pós-petróleo, querem extrair até à última gota combustíveis fósseis para continuar a alimentar um sistema prejudicial, funesto e nocivo.
Não se duvide que as empresas de combustíveis fósseis continuam a conduzir o mundo para o abismo climático e os governos são seus cúmplices. Lembrar que as alterações climáticas causam tragédias como inundações, secas e ondas de calor mais intensas, levando a perdas de vidas, deslocamentos em massa, insegurança alimentar e danos de toda a ordem. Estes eventos, como tempestades severas, furacões e incêndios florestais, estão a tornar-se mais frequentes e letais. Todo o ecossistema é profundamente alterado. Face às catástrofes que vão a acontecer resultado das alterações climáticas, como é possível existir quem duvide dessas alterações como os negacionistas? Como é possível que os governos sigam as ordens das empresas de energias fósseis em prejuízo dos cidadãos? Como é possível? É a vida no planeta que está em causa será tão difícil de perceber?
Tenham uma excelente semana.
