Brincar aos riquinhos para brincar aos pobrezinhos
Assunção Esteves é uma personagem no sentido plano e caricatural do
termo.
Nos romances, as Assunções surgem nos capítulos secundários para dar um
colorido sociológico ou histórico ao cenário onde a personagem principal actua.
Ora, a nossa Assunção Esteves representa o colorido cómico de um certo
Portugal, o Portugal da comédia snob, do nariz empinado por questões de
nascimento. Sim, é o Portugal que brinca aos pobrezinhos, mas também é o
Portugal que quer brincar aos riquinhos. Assunção Esteves encaixa na segunda
espécie. Julgo que aqueles que brincam aos pobrezinhos tem uma palavra gira
para descrever esta segunda categoria: possidónios. Palavra giríssima, sei lá.
Como é evidentíssimo, a filha de um pobrezinho não pode chegar ao topo, é
contranatura.
Apesar da origem humilde, Assunção Esteves aceitou o ethos
pseudo-aristocrático da "Lesboa" que se repete em todas as povoações
portuguesas com mais de, vá, 10 habitantes.
E a mutação não se ficou por aqui.
Segundo uma peça da Sábado, a Presidenta tem aquela obsessão típica
pelo luxo. Ele é roupa de alta costura, ele é carteiras que custam 10% da sua
reforma (valor da pensão: 7200 euros por 10 anos de trabalho), ele é um
corrupio de assessores que trata como escravos coloniais, ele é gastos
sumptuários: assim que chegou à Presidência da Assembleia, Assunção Esteves
mudou a casa de banho do seu gabinete para não usar a mesma retrete do
antecessor. Que magno problema viu Assunção Esteves no bumbum de Jaime
Gama?
Os regimes mudam, mas este Portugal não morre.
A comédia social parece que tem o dom da imortalidade.
Tal como em 1950, ainda temos fidalgos a viver em bolhas sem qualquer
contacto com a realidade.
E, tal como em 1950, ainda temos fidalgos wannabe (gíria da língua
inglesa, junção dos verbos "want" e "to be". É um termo
pejorativo que se refere a pessoas que querem ser alguém ou algo que não são.),
que querem à força brincar aos riquinhos para depois brincarem aos pobrezinhos.
País giríssimo, sei lá.
Acedido aqui: http://expresso.sapo.pt/brincar-aos-riquinhos-para-brincar-aos-pobrezinhos=f824226#ixzz2xRwGcxwV, em 30/03/2014.
P.S.: Esta tem vergonha da profissão do pai. Outros há, que não tendo pai alfaiate, também lhes custa reconhecer a origem humilde. Outros ainda recusam-se a aceitar a profissão dos maridos e vai de os armar com antenas parabólicas, bem recheadas!!!!
Há de tudo, com ou sem armação!!!