sábado, março 08, 2014

Dia Internacional da Mulher

Em 1857, nos Estados Unidos da América do Norte, irrompiam os primeiros grandes protestos de mulheres contra toda a espécie de discriminações e desigualdade de tratamento.
Quase 200 anos depois, a igualdade de direitos e de oportunidades ainda não é um dado adquirido quer no dito mundo civilizado e, muito menos nas regiões mais pobres do globo.
Hoje comemoramos o dia internacional da mulher.
Para além dos discursos de circunstância bacocos, ocos e vazios
hoje comemora-se. 
A minha comemoração vai para além de juntar a minha voz à luta que deve ser de todos aqueles que pugnam por uma sociedade de igualdade, de oportunidades e de direitos.
Porque vivo numa sociedade em que a igualdade de género tem uma visibilidade muito maior do que causas como a igualdade racial e a igualdade de oportunidades dos cidadãos portadores de deficiência, dedico estas linhas a todas as mulheres em geral e a todos, homens e mulheres, que são discriminados pela cor da pele ou pela deficiência de que são portadores, em especial a estes últimos, que são os  últimos em todos os sentidos: últimos a entrar no mercado de trabalho, primeiros a ser despedidos; últimos a ser promovidos, primeiros  nas listas de prioridades que podem ser adiadas e primeiros a cair nas teias de um assistencialismo que não substitui um quadro normativo cada vez mais rarefeito que lhes confira por direito o que a caridade lhes concede como favor. Infelizmente, não temos em Portugal nenhum partido que agite esta bandeira sem constrangimentos e sem aquela carga de preconceitos que seria a primeira barreira a transpor no caminho da plena integração destes cidadãos. 
Apesar de tudo, um óptimo 8 de Março para todos, sem excepções e, para reforçar a minha comemoração aqui fica um poema de Carlos Drummond de Andrade.

Família

Três meninos e duas meninas, 
sendo uma ainda de colo. 
A cozinheira preta, a copeira mulata, 
o papagaio, o gato, o cachorro, 
as galinhas gordas no palmo de horta 
e a mulher que trata de tudo. 

A espreguiçadeira, a cama, a gangorra, 
o cigarro, o trabalho, a reza, 
a goiabada na sobremesa de domingo, 
o palito nos dentes contentes, 
o gramofone rouco toda a noite 
e a mulher que trata de tudo. 

O agiota, o leiteiro, o turco, 
o médico uma vez por mês, 
o bilhete todas as semanas 
branco! mas a esperança sempre verde. 
A mulher que trata de tudo 
e a felicidade. 

Carlos Drummond de Andrade, in 'Alguma Poesia'