Em 1857, nos Estados Unidos da América do Norte, irrompiam os primeiros grandes protestos de
mulheres contra toda a espécie de discriminações e desigualdade de tratamento.
Quase 200 anos depois,
a igualdade de direitos e de oportunidades ainda não é um dado adquirido quer no
dito mundo civilizado e, muito menos nas regiões mais pobres do
globo.
Hoje comemoramos o dia internacional da mulher.
Para além dos discursos de circunstância bacocos, ocos e vazios
hoje comemora-se.
A minha comemoração vai para além de juntar a
minha voz à luta que deve ser de todos aqueles que pugnam por uma
sociedade de igualdade, de oportunidades e de direitos.
Porque vivo numa
sociedade em que a igualdade de género tem uma visibilidade muito maior do que
causas como a igualdade racial e a igualdade de oportunidades dos cidadãos
portadores de deficiência, dedico estas linhas a todas as mulheres em geral e a
todos, homens e mulheres, que são discriminados pela cor da pele ou pela
deficiência de que são portadores, em especial a estes últimos, que são os últimos
em todos os sentidos: últimos a entrar no mercado de trabalho, primeiros a ser
despedidos; últimos a ser promovidos, primeiros nas listas de
prioridades que podem ser adiadas e primeiros a cair nas teias de um
assistencialismo que não substitui um quadro normativo cada vez mais rarefeito
que lhes confira por direito o que a caridade lhes concede como favor.
Infelizmente, não temos em Portugal nenhum partido que agite esta bandeira sem
constrangimentos e sem aquela carga de preconceitos que seria a primeira
barreira a transpor no caminho da plena integração destes cidadãos.
Apesar de tudo, um óptimo 8
de Março para todos, sem excepções e, para reforçar a minha comemoração aqui fica um poema de Carlos Drummond de Andrade.
Família
Três meninos e duas meninas,
sendo uma ainda de colo.
A cozinheira preta, a copeira mulata,
o papagaio, o gato, o cachorro,
as galinhas gordas no palmo de horta
e a mulher que trata de tudo.
A espreguiçadeira, a cama, a gangorra,
o cigarro, o trabalho, a reza,
a goiabada na sobremesa de domingo,
o palito nos dentes contentes,
o gramofone rouco toda a noite
e a mulher que trata de tudo.
O agiota, o leiteiro, o turco,
o médico uma vez por mês,
o bilhete todas as semanas
branco! mas a esperança sempre verde.
A mulher que trata de tudo
e a felicidade.
Carlos Drummond de Andrade, in 'Alguma Poesia'