Almofada de pedra
por VIRIATO SOROMENHO MARQUES
Como é que designaríamos o comportamento de um cidadão que,
incapaz de honrar um crédito pessoal a uma taxa de 3,35%, prestes a atingir a
maturidade, contraísse um novo empréstimo a uma taxa de 5,11% para pagar o
primeiro ("troca de dívida")?
Sem dúvida, tratar-se-ia de um
comportamento pouco recomendável.
E como seria classificado esse comportamento
se o cidadão em causa utilizasse parte do novo empréstimo (de 11-02-2014) para
antecipar, parcialmente, o pagamento em 19,5 meses do primeiro empréstimo,
pagando 102,89 euros por cada 100 euros de dívida ("recompra")?
Seria, certamente, uma atitude temerária, pois aumenta a despesa com juros para
apenas empurrar a dívida para o futuro.
Pois é isso que o Governo pretende
fazer hoje.
O leitor pode ir ao site eletrónico do IGCP.
Abra o boletim mensal
de fevereiro sobre "Dívida Pública".
Na página 2, vê que o Estado vai ter
de resolver até 2016 cerca de 39 mil milhões de euros de empréstimos.
Esse
imenso obstáculo tem sido o pretexto para a constituição de uma volumosa
"almofada" financeira.
Tudo indica que o IGCP quer recomprar, hoje,
uma parte de uma série de dívida a dez anos, contraída a partir de outubro de
2005 (ver página 3).
Se o fizer, às taxas mais recentes no mercado secundário, isso
significa que, para o montante que for hoje amortizado, vamos pagar mais 3,53%
de juros por ano até Outubro de 2015 do que antes das duas operações
financeiras supracitadas.
Será isto uma gestão prudente, ditada pelo interesse
nacional, ou estará o Tesouro público em risco para alimentar uma ilusão
pré-eleitoral de triunfo?
Será esta uma almofada que alivia o País, ou uma
pedra amarrada às pernas que o atira para o fundo? Temos direito a saber a
lógica com que se joga o dinheiro sonegado aos salários e às pensões.
Direito a
uma explicação, ou a uma beliscadela que nos acorde deste pesadelo.