terça-feira, fevereiro 10, 2009

O percalço

Nos últimos dias voltou a falar-se, insistentemente, no Hospital da Guarda, agora integrado de forma ligth na designada Unidade Local de Saúde da Guarda (ULSG).

Certos responsáveis têm o péssimo hábito de, quando pouco ou nada fazem, mudarem apenas os nomes às coisas. Tanta “mudança” serve para, rigorosamente, continuar tudo na mesma. Pior é quando se suspeita que essas “mudanças” decorrem de desígnios obscuros. No fim é o cidadão quem sai enganado.

Vem isto a propósito da USLG, entidade com aparentemente maiores atributos administrativos, mas cada vez com menor capacidade de resposta aos utentes de um distrito cada vez mais abandonado e interiorizado pelo poder central, relegado para terceiro ou quarto plano, e no qual as capelinhas e respectivas irmandades julgam, ainda, mandar impunemente.

Quem não ficou calado com o foguetório de governantes e fabriqueiras locais foram alguns médicos da ULSG.

Em carta-aberta ao primeiro ministro esses médicos recordaram, mais uma vez, as promessas eleitorais do actual Governo e do próprio Sócrates.
Quem esqueceu já que, perante centenas de pessoas e na presença de toda a confraria regional, alguém garantiu que, caso viesse a ser primeiro-ministro de Portugal, se procederia à recuperação do plano director de remodelação das actuais instalações do hospital da Guarda?
Lembram-se também das comemorações do centenário do Sanatório da Gurada, quando Correia de Campos, na qualidade de ministro da saúde, nos bombardeou com o já estafado discurso da aprovação do programa funcional do novo hospital (leia-se requalificação e ampliação, isto porque o conceito de NOVO é susceptível de muitas interpretações)?

Novo, no léxico português, mesmo com acordos ortográficos, sendo um adjectivo, significa de pouco tempo; moderno; que ainda não serviu ou tem pouco uso; original, que é visto pela primeira vez.
Não é, pois, este o significado que alguns atribuem à palavra «Novo»; mas adiante.

Posteriormente, nas Jornadas Parlamentares do PS, realizadas em Março de 2008, na Guarda, voltou o secretário-geral do PS e primeiro-ministro de Portugal a assumir o compromisso de um «novo» hospital para a Guarda.

Ora, o tempo das cerejas passou e ficaram os caroços.

Até que um dirigente local do PS veio publicamente admitir que tinha havido um percalço em todo o processo. Percalço?? Qual?? Não dizem.

Mas, para aqueles que nunca acreditaram em tanta promessa, não ocorreu qualquer percalço quando constataram que na data em que estava prometida a instalação de um estaleiro de obras, apenas surgiu mais papelada e promessas.
Foi publicado em Diário da República o anúncio para um contrato público de ampliação do Hospital Sousa Martins.

Ampliação? Então, mas não era uma remodelação e ampliação???

Vamos continuar a ter enfermarias que são um atentado à dignidade de cidadãos e de profissionais? Salas de espera sem as mínimas condições de conforto? Blocos operatórios intermitentemente alagados? Instalações eléctricas que já não funcionam? Instalações sanitárias terceiro-mundistas? Profissionais a fugirem para outras paragens? Campanhas de propaganda ao gosto das confrarias do poder?

BASTA!!!

(Artigo publicado no jornal O Interior de 5 de Fevereiro de 2009)