É a crónica uma enfermidade?
Parece até certo ponto que sim, visto que é ….. crónica.
Enfermidade crónica, no jornal, na revista, isto é, inseparável da revista e do jornal.
Quisemos fugir dela.
Impossível.
Ao aparecermos já a trazíamos connosco, como um pigarro.
E eis - nos a voltas com ela, escrevendo, isto é, tossindo.
Esta crónica é uma bronquite – Bronquite crónica, e assim a qualificaremos, se a Sociedade de Ciências Médicas não determinar o contrário.
Como bronquite crónica, deve ela ser impertinente?
Deveremos, por outras palavras, tossir alto, ou tossir baixo?
Dado o balanço às forças da sociedade portuguesa, eis pelo que nos decidimos – pela meia-tosse.
Uma tosse muito ruidosa poderia talvez insinuar que nos propomos destruir; uma tosse tímida poderia talvez dar a entender que nos dispomos a cooperar.
Um pigarro insistente, obstinado, incómodo, mas isento de toda a ortodoxia, livre de todo o sectarismo, um pigarro enfim, «absolutamente independente», tal ficou estabelecido que deva ser o nosso.
É o que podemos chamar – uma bronquite ao serviço de uma sociedade.
Lembrei-me deste texto do imortal Rafael Bordalo Pinheiro.
Em tempo de chuva e neve, a pertinência e actualidade da prosa.