A notícia que marca, indubitavelmente, a semana finda foi o anúncio mais mal guardado da década, a candidatura de Gouveia e Melo à presidência da República Portuguesa. Gouveia e Melo fez o papel de um jogador de póquer hábil, medindo bem as frases e os momentos. O póquer é um jogo de sorte e estratégia, onde a habilidade de ler os outros jogadores e fazer as apostas certas são tão importantes quanto a combinação de cartas. E Gouveia e Melo teve a sorte ditada pela conjuntura política como também utilizou a estratégia de ir a queimar etapas com sucessivas simulações. Estava mais que acertado que Gouveia e Melo seria candidato à Presidência da República. Apesar da retórica ter utilizado várias figuras de estilo, com muito pouco acerto, o exórdio foi francamente de ilusionismo e de distração. Recorrendo às mais patéticas frases, conseguiu ir a iludir. Um bluff completo. No, entretanto, surge o caso do navio patrulha Mondego. Gouveia e Melo decididamente não tem jeito para político. Além de, com orgulho e em direto, ter humilhado os seus subordinados, não cumpriu a lei elementar, o que foi confirmado pelo Supremo Tribunal Administrativo. Fim de linha para o ‘justiceiro’ Gouveia e Melo. Um acórdão do Supremo Tribunal Administrativo, particularmente demolidor para a cúpula da Marinha, anulou todos os processos disciplinares que castigaram 11 militares do navio de patrulha Mondego, que se recusaram, em março de 2023, a cumprir uma missão alegando falta de condições de segurança. O Ministério Público resolveu ainda acusar o Almirante de negligência, assédio e abuso de poder. O caso foi quase completamente silenciado pela comunicação social que em Portugal ainda determina e muito a opinião pública que se acoita no medieval senso comum. Tem toda a razão a democracia não precisa de militares. E muito menos de guerras e morrer onde tivermos de morrer para defender a NATO. Falta de jeito para político. Quando lhe perguntam onde encontrar os 5% necessários para cumprir o que a NATO e Trump querem para equipar a Defesa Nacional, a resposta é ainda mais grave e preocupante, depauperar ainda mais os serviços públicos. Diz-se estar acima dos “partidos”. Basta de tanto fingimento. As candidaturas à Presidência da República são independentes dos partidos, mas os interesses são mais que muitos. Já tivemos disso na União Nacional – o Partido de Salazar que dizia que estava acima dos Partidos, por isso era a união nacional, ou antes, com Sidónio Pais, ou antes, com João Franco. Não há milagreiros e muito menos sebastianismos. Dizer que é necessário voltar a dar aos médicos, enfermeiros, professores, militares e outras profissões a dignidade de outros tempos é algo que não se coaduna em nada com o processo movido aos militares do navio patrulha Mondego e que o Tribunal reverteu. Quanto à intervenção do seu mandatário, Rui Rio, dizer apenas, para não me alongar muito em revanchismos de qualquer ordem, aconselho-o a ler as atribuições de um Presidente da República. O presidente da República, em Portugal, não é executivo. Dizer, senhor Rui Rio, que se assiste a uma "degradação acentuada que a própria qualidade da democracia tem sofrido" é esquecer que o senhor também deu o seu contributo, pertenceu-lhe e alimentou-se dela. Já quanto às críticas ao atual Presidente da República são formas pouco hábeis de vingança. Na vida e muito em especial na política as vinganças dão muito trabalho, veja se percebe. Não é muito difícil. Os problemas do país resolvem-se quando os políticos no executivo querem e não quando um Presidente deseja. Bem sei que não é com palhaçadas que se dignifica uma instituição e muito menos se goza com a falta de cultura e a notória impreparação cívica de um povo. Senhor Gouveia e Melo quer-se imiscuir na vida política, tem toda a liberdade para o fazer, foi o 25 de Abril que a deu a todo e qualquer cidadão português com capacidade eleitoral ativa e sejam maiores de 35 anos. Com uma ressalva é bom lembrar. Os militares em efetividade de serviço nos quadros permanentes e em regime de voluntariado e de contrato não se podem candidatar. Por isso o senhor Gouveia e Melo já não é almirante. Aprendam. Já quanto a outras expressões de apelidar adversários concorrentes à presidência de “manhosos” recomenda-se mais tino na língua. Lembrar que pelo menos os visados nunca foram parar à cadeia. Para mim, como para a maioria dos portugueses, na vida e na política não vale tudo, nem pisar e espezinhar quem discorda de nós. Mas já estamos mais que habituados à tal ética que alguns dizem defender. Quanto às jarras e jarrões presentes na cerimónia de apresentação da candidatura de Gouveia e Melo lembrar apenas um ditado bem antigo, “diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”.
Tenham uma excelente semana.
Tenham uma excelente semana.