Começar esta brevíssima análise da situação catastrófica que se vai a verificar nas escolas pelo cada vez menor espaço que o assunto merece da comunicação social. Pontualmente fala-se de acontecimentos de violência em ambiente escolar, agressões entre discentes, publicação dos mesmos nas redes sociais, tudo para aumentar audiências de certa comunicação social sensacionalista sempre na busca do espetáculo degradante sem procurar as causas de tais acontecimentos e alheando-se de outros tão ou mais graves. Não há uma comunicação social que procure saber da vida nas escolas, da democracia que se diz que por lá existir, ouvir a opinião dos professores, técnicos e auxiliares.
Tudo no mais profundo segredo. Quem manda tem voz pública e é por isso que continua a mandar, quem trabalha não tem voz, e é por isso que continua a executar o trabalho com muito sacrifício onde a motivação não funciona, não há gosto pelas diferentes aprendizagens, não se participa na vida escolar, a escola cada vez mais desinteressante. É isso que é preciso mudar se queremos falar em democracia.
Democracia real, a sério, só existe quando há voz e capacidade de ação de quem trabalha.
Precisamos de voltar a falar de educação a sério, políticas sociais a sério em vez de achar que a escola é um armazém de crianças.
Todos os anos surgem os chamados ‘rankings’ que são uma demonstração do falhanço da escola, da pública mas também da privada.
A escola moderna foi criada para possibilitar a todos, crianças, jovens e menos jovens o melhor conhecimento produzido pela humanidade. ~
Os ‘rankings’ são a demonstração do total falhanço da educação porque demonstram que as crianças e jovens sabem e fazem o que a família consegue e permite-lhes dar dependendo do seu poder financeiro.
O que não se aprende, e é muito, nas escolas é compensado com aulas suplementares nas ditas explicações em que o poder económico manda. Manda na aprendizagem que não se faz no sítio certo, a escola, e compensa o mísero ordenado dos professores.
A escola passou a ser um lugar onde o aluno morre de depressão e tédio horas a fio, sem acesso à única coisa que torna a escola potenciadora da transformação do ser humano – o conhecimento.
Os “rankings” detestados por muitos, tem, no entanto, várias facetas interessantes que importava analisar em profundidade, mas que aqui e agora é manifestamente impossível fazer.
Desde logo a discrepância entre as classificações, sim, são classificações há muito que deixaram de ser avaliações, entre o que os professores ditam para uma pauta e as classificações obtidas nos celebérrimos exames.
As diferenças são abissais e não se julgue que só se verificam apenas no âmbito da escola privada, longe disso.
Os diretores mandam repetir até à exaustão reuniões até se conseguir uma pauta sem reprovações para o retrato ser perfeito aos olhos dos embevecidos pais e encarregados de educação esquecendo que as falhas na aprendizagem acompanham o aluno ou aluna e a seu tempo far-se-ão notar com prejuízo grave para os mesmos.
O “rankings” mostram à evidência a forma de trabalho nas escolas. As que formatam os alunos para exames padronizados, sem darem qualquer valor à criatividade, motivação e gosto pela aprendizagem, e promovem o célebre ensino da memorização.
Lembrar aos menos entendidos que a memorização é só o patamar mais baixo na taxionomia do desenvolvimento das aprendizagens. Havia que reduzir o número de alunos por turma.
Mas como? Se nem o próprio Ministério da Educação consegue dizer quantos professores faltam nas escolas. Isso mesmo. Adiantou, em tempos, um número, que logo foi desmentido.
Ainda hoje não se conhece a realidade. Havia que adotar novas e inovadoras práticas pedagógicas com recurso às tecnologias. Mas a formação inicial dos professores não o contempla.
Por último, mas não menos importante, mais um cancro deixado pelo governo de Costa e que a direita persegue. A entrega das escolas ao domínio das autarquias. Hoje, para além da conservação dos edifícios, das verbas distribuídas para o funcionamento das escolas, cada vez mais exíguas, o dinheiro não estica e as festas para agradar aos munícipes são mais que muitas e com a interferência direta na calendarização escolar onde festanças, passeatas sem qualquer fim pedagógico e privilegiando parasitas. As autarquias, tal como não têm apetência para gerir uma unidade hoteleira, muito menos têm apetência e competência para gerir escolas.
E para que o estado de sítio se mantenha, dá-se a possibilidade aos diretores de se perpetuarem no poder 16 anos. Uma barbaridade temporal com consequências desastrosas. Em qualquer situação da vida a renovação das estruturas, e principalmente as de gestão, seja isso o que quiserem que seja, deve-se verificar. E findo os tais 16 anos, o diretor tem ainda várias alternativas. Ou regressa à docência, que ao fim de tantos anos sem lecionar é algo negativo. Mas se preferir pode ir para a reforma, com tantos anos de poder pode ser o mais desejado. Ou ainda lhe é dada a faculdade, tal como acontece com aos regedores na vida política, pode mudar de escola e candidatar-se a mais um período de direção. Esta gente nada, percebe de educação. Uma escola ou agrupamento de escolas não é o mesmo que uma autarquia. É preciso conhecer a realidade social em que se insere a escola ou agrupamento, conhecer as relações entre os diferentes agentes, conhecer o ambiente escolar, conhecer a comunidade em geral, e a educativa em particular. Mas o fato do governo do PSD mais CDS acenar com a elevação dos diretores ao topo máximo da remuneração docente, 10.º escalão, é mais uma vez um aliciante para certa gente. Tudo em prol da falência da Escola Pública e das aprendizagens sérias que proporcionassem o esbater das desigualdades sociais que se vão a acentuar e das avaliações sérias e transparentes do trabalho realizado.
Como noutros tempos, tudo a Bem da Nação, obviamente.
Tenham uma excelente semana.