E eis que a sociedade portuguesa é abalada por mais um escândalo. Este tem a ver com o jogo. Falamos como é óbvio do escândalo que arrasa a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Os jogos mais populares, na sua maioria, têm a sua proveniência na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa que os gere, mas nem tudo vai como é feito crer para o apoio ao social. A principal receita da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa vem da exploração dos jogos sociais, atribuída pelo Estado sem tempo definido e em regime de exclusividade. Face ao volume de vendas de jogos e a todo o património que possui, a gestão da Santa Casa é, várias vezes, confrontada com o dilema entre duas realidades que a condicionam nas opções de negócios. Se, por um lado, tem acesso à elevada liquidez – nem toda aplicada nos fins sociais que estão atribuídos –, por outro lado, há algum prurido em ir atrás do lucro como uma empresa normal, devido às suas funções sociais e de assistência. Mas não desiste sempre que há oportunidade. Por exemplo, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa esteve quase a investir 200 milhões de euros para entrar na então Caixa Económica Montepio Geral. Mas, felizmente, o “negócio” ficou pelos 75 mil euros. Outros ativos problemáticos foram empurrados na direção da Santa Casa. Foi apontada como a principal interessada na compra ou na gestão do Hospital da Cruz Vermelha. A tal ponto que a Cruz Vermelha Portuguesa teve de pedir um empréstimo ao Estado para ultrapassar dificuldades de tesouraria. Em 2016, e após a queda do BES e do GES ter deixado em maus lençóis a Fundação Ricardo Espírito Santo, a Santa Casa fez uma parceria com a entidade para o restauro do seu próprio património e terá passado a ser a principal financiadora. E voaram 565 mil euros. Em 2018, foi a vez de estender a mão à Raríssimas e mais 735 mil euros voaram da Santa Casa. Já a nível do desporto subsídios a eventos com fatos desportivos e outros equipamentos não faltaram nem apoios a modalidades que não têm representatividade no país como o Hóquei no gelo e Futebol Americano. Quando faltam apoios aos mais necessitados sobram verbas para despesismos sem qualquer significado. A principal atividade da Santa Casa é a ação social que presta apoio, ou devia prestar apoio, a vários grupos vulneráveis, por vezes em complemento ou substituição do próprio Estado. Idosos, crianças, jovens, deficientes e doentes, deviam ser os principais destinatários das medidas de ação social. A Santa Casa é proprietária de quatro instituições de saúde: o Hospital Ortopédico Sant’Ana, na Parede, a Escola Superior e o Centro de Reabilitação de Alcoitão e uma unidade de cuidados integrados em Cascais. Conforme as contas disponíveis, estas instituições, todas elas, apresentaram prejuízos no ano passado e dependem financeiramente da Santa Casa. Em 2015, durante a gestão de Santana Lopes, a Santa Casa pagou 14,8 milhões de euros ao Ministério da Defesa pelas instalações do antigo Hospital Militar da Estrela, uma área de 16 mil metros quadrados numa zona nobre de Lisboa. O objetivo era relançar, agora com a gestão da Santa Casa, os cuidados de saúde em algumas valências, incluindo cuidados continuados, consultas externas e medicina de reabilitação. Mas o plano continua por concretizar. Segundo os dados conhecidos, o saldo da Santa Casa em 2023 será de 33 milhões e 100 mil euros negativos. Para justificar estes números, para além do buraco financeiro gerado pela Santa Casa, responsável pela internacionalização da atividade, no Brasil, os documentos analisados concluem que as despesas com pessoal aumentaram em relação a 2023, ultrapassando os 60% da despesa total. O nepotismo também se fez notar nas contratações para a Santa Casa com vencimentos muito além dos admissíveis. Contratações mensais a 6 mil euros e com direito a motorista. Na Santa casa há 488 chefes. Um dia, mesmo com o jogo, a casa vem mesmo abaixo. Por fim, onde ficam as responsabilidades de uma ex-ministra, Ana Mendes Godinho? Em último caso, a responsável máxima do desnorte que reina na Santa Casa.
Para pensar!
Tenham uma excelente semana!