segunda-feira, outubro 27, 2025

Não passarão!

Não vou comentar a entrevista que um fascista, candidato a presidente da República, vomitou num canal de lixo.
E faço-o por várias ordens de razões.
A primeira é que canalha fascista e outra que tal não entram cá em casa.
Segunda razão, e por consequência da primeira não vi e recuso-me a ver tal vómito.
Mas lembro-me, como me poderia lembrar de tantos outros que se ergueram contra os fascismos, todos eles, o poema de Miguel Torga.
Lembrei-me, por várias ordens de razão.


NÃO PASSARÃO

Não desesperes, Mãe!
O último triunfo é interdito
Aos heróis que o não são.
Lembra-te do teu grito:
Não passarão!

Não passarão!
Só mesmo se parasse o coração
Que te bate no peito.
Só mesmo se pudesse haver sentido
Entre o sangue vertido
E o sonho desfeito.

Só mesmo se a raiz bebesse em lodo
De traição e de crime.
Só mesmo se não fosse o mundo todo
Que na tua tragédia se redime.

Não passarão!
Arde a seara, mas dum simples grão
Nasce o trigal de novo.
Morrem filhos e filhas da nação,
Não morre um povo!

Não passarão!
Seja qual for a fúria da agressão,
As forças que te querem jugular
Não poderão passar
Sobre a dor infinita desse não
Que a terra inteira ouviu
E repetiu:
Não passarão!

Miguel Torga
In Miguel Torga 1907 - 1995 :: A Voz do Chão