segunda-feira, outubro 20, 2025

Crónica

 A inconsciência, a vaidosice, a vulgaridade e a bandidagem

Nesta altura poder-se-ia imaginar que o tema desta crónica fosse as eleições autárquicas, sobre nomeadamente o que de muito pouco se vai vendo e muito menos fazendo para um esclarecimento minimamente objetivo do que se quer para o concelho da Guarda.

Repetem-se os ‘slogans’, as frases feitas, os “porcos no espeto” e muita música celestial para encantar os incautos que continuam a acreditar no milagre da Senhora do Coito. Ilusões e promessas não faltam!

Sabendo-se que os parasitas do costume irão estar à mesa do senhor feudal, qualquer que ele seja, e que os restantes cidadãos apanharão as migalhas que vão cair da mesa da nobreza.

É sabido que a política caiu no pior dos lamaçais que a bravata é o denominador comum.

A par de fanfarronices, bazófias, intimidações, muitas, todas mais ou menos devidamente camufladas, e alardes de coisa nenhuma, e a prosa sempre de conversa longa e enfadonha a não faltar, geralmente com o intuito do exibicionismo. Ora, é aqui, no tal exibicionismo, que a coisa estaca. Há gente que, à falta de cada um dos abjetos atributos que mencionei (sim, alguns nem isso conseguem), só tem este, o do exibicionismo, a que se agarrar. Nem que seja a cavalo em números de circo com muito

contorcionismo, trapézio e ilusionismo à mistura.

A Guarda assistiu, há uns dias, a um espetáculo desses absolutamente inenarrável.

A Unidade Local de Saúde da Guarda (ULS) celebrou o seu 17.º aniversário, vá-se lá perceber por quê. É que assim ninguém consegue intuir porque é que não se celebrou então nenhum dos 16 aniversários anteriores. Só espero que ninguém seja suficientemente idiota e ridículo ao ponto de pretender celebrar o do próximo ano. Se assim for, vou promover desde já o 32.º aniversário do alcatroamento da rua principal do meu bairro!

Para comemorar essa data tão importante para o país e para a humanidade (!), o conselho de administração da instituição decidiu convidar o 1.º conselho da administração da ULS, de 2008, para

botar discurso. Cada um convida quem quer e mais ainda quem é servido.

Conforme já é hábito em tudo o que envolva o espírito das sociedades amigáveis de palmadinhas nas costas, houve lugar a

discurso, e, claro, como não podia deixar de ser, à pronúncia de todo o tipo de disparates.

Cada um tem o direito a proferir os disparates que entender. O problema não reside aí. Reside no crédito que se lhes dê. Uma sociedade que percebe a asneira tem uma hipótese de singrar. Uma que apenas se embasbaque e edulcore com o disparate, como parece ter sucedido com pelo menos uma minoria dos presentes, está condenada a ficar encrencada, e de que maneira!

Dizer-se, nomeadamente, que a Guarda poderia ser o centro da Saúde entre a Covilhã e Viseu, algo que nem daqui a 1 500 anos vai acontecer, é de uma ignorância suprema e de um desprezo total

para com todos os que ainda dignificam a ULS e lutam para haver um mínimo de respeitabilidade nos atos médicos e na denúncia de situações que despromovem a unidade.

Quando essas e outras atordoadas são vomitadas por alguém que no seu mandato semeou apenas conflitos e problemas que

permanecem atualmente que têm custado a todos nós, contribuintes, milhões de euros, a coisa sobe de tom. E quando a plateia acredita, ou, como quero crer, finge de forma submissa acreditar nesse tipo de baboseiras e de vulgaridades, então a esperança morre na proporção inversa da parvalheira.

É bom que se saiba que a pessoa que abriu a bocarra a tais dislates (e a outros ainda piores) foi condenada por vários crimes cometidos contra colegas dessa instituição, profissionais merecedores do nosso respeito e consideração, alguns deles perseguidos desde esses tempos até agora. E que essa

sinistra personagem ainda há umas semanas foi novamente condenada criminalmente por se fazer passar por um utente junto da ministra da Saúde por meio de cartas anónimas que lhe dirigiu a tentar “fazer a folha” a um colega seu, com acusações falsas e difamatórias. Sim, assim mesmo!

Se é com este tipo de gente que a administração da ULS conta para socializar e recuperar a boa imagem para a Unidade, é com temor que abro a minha caixa de correio todos os dias! Só peço a

todos os “anjos” nunca ser convidado, por esta administração, seja em que qualidade for, a não ser para as consultas de que necessito para me tratar! Já lá diz o ditado, diz-me com quem andas, dir-te-ei

quem és…

(Crónica, jornal "O Interior" - 6 de outubro 2025)