Já
muito se escreveu e se disse sobre a hecatombe do BES. Pelo caminho tentaram
vender-nos a ideia de que o BES e o GES são coisas diferentes. Nada mais falso!
Ambos fazem parte de um sistema. De um sistema que só tem um objetivo: a
obtenção de poder. Nunca, como no caso presente, foi tão verdadeiro o velho
adágio de que dinheiro é poder. A corrupção e o domínio do universo político
pelo poder financeiro nunca entraram tanto pelos olhos, mesmo de quem não
queira ver.
Desta
vez quem paga a fatura, pelo menos no imediato, são os investidores e
acionistas, muitos dos quais pequenos, todos eles “convidados” a investir,
ainda bem recentemente, a cavalo de garantias de solidez e de confiança
prestadas por políticos e por responsáveis da supervisão. O futuro dirá se
também os contribuintes pagarão o grosso de mais este desmando da ganância e da
fraude. Para já limitam-se a arcar com os custos indiretos do aumento dos juros
da dívida pública, com um mais que previsível agravamento das comissões
bancárias em geral, e com os 3.900 milhões a título de empréstimo. O que não é
pouco mas nem sequer é muito mau se olharmos para casos como o do BPN, onde a
esperança de recuperarmos o que é nosso é tão grande como a vergonha de quem
conduziu o processo. Confiar em promessa de político é como entregar o
galinheiro à raposa, por isso convém esperar para ver.
O
resto do filme é bem mais previsível: nenhum dos culpados pagará por mais esta
monumental vigarice. Basta recordar Arlindo de Carvalho e Oliveira e Costa, e
os poucos meses de prisão que apenas este último teve de cumprir, num universo
de crimes que só podem ter ocorrido com a cumplicidade de muitos mais, para se
antever mais do mesmo. Oliveira e Costa há-de morrer de velho, de cancro, ou de
outra coisa qualquer, e tudo há-de continuar na mesma. E Arlindo de Carvalho
ainda há-de ser presidente de qualquer coisa, provavelmente na área da saúde ou
da finança, ou eu seja ceguinho e a minha mãe comigo!
Entre
investigações de um Ministério Público claramente sem meios, motivação ou
coragem para investigar a fundo, e incidentes processuais, recursos,
anulamentos e outros truques do género, a montanha do BPN há-de parir um rato
do tamanho da fraude por castigar. E o BES irá pelo mesmo caminho. Só para que
conste, Ricardo Salgado já não tem nada em seu nome ou no da mulher. Pelo menos
em Portugal. A não ser os 3 milhões que teve de arranjar para pagar a caução…
A
verdade, dura e crua, é que os milhares de milhões que desapareceram já aquecem
ao sol dos off-shores, ao lado dos do BPN, BPP, Freeports, submarinos e de
tantos outros casos que me vêm à memória.
Cavaco,
Passos Coelho, Granadeiro, Carlos Costa, Seguro, António Costa, e tantos
outros, juntam-se a Ricardo Salgado para construir mais uma metáfora da
natureza humana. A ganância de uns é tão infinita como a hipocrisia de outros e
a estupidez de todos nós, a saber, aqueles que ainda acreditam no sistema e em
contos da carochinha.
A
caminho vêm mais cortes, com ou sem aprovação do Tribunal Constitucional. O
emagrecimento desta classe média começa a roçar o raquitismo, alimentando a
gordura de um sistema que nunca vai ao médico.
Quanto
à democracia, essa já era. E não é de agora. Qualquer sistema onde um assalto a
uma bomba de gasolina renda sempre mais anos de cadeia do que um ataque ao
sistema financeiro, não passa de uma república das bananas. E das piores.
Cristiano
Ronaldo, aparte os 700 mil euros de contrato publicitário anual que recebe do
BES, há-de questionar-se sobre os danos à sua própria imagem, por risco de
associação a um escândalo desta dimensão. Quanto à Dona Inércia, essa,
ficar-se-á pela justiça. De facto, vai ser a inércia total e completa! É caso
para se dizer, bardamerda para isto…
(Crónica no jornal O Interior - 14 de Agosto 2014)