Nos
meus tempos de escola, havia aquele indivíduo que se «armava» em «xico esperto»,
que engraxava os sapatos aos professores, acusando os colegas de todas as
asneiras que ele próprio fazia. A este personagem apelidava-o a turma de «abelha».
O «abelha» era o típico indivíduo que gostava de fazer «piscinas» na Visconde
da Luz, em Coimbra, que cravava o café ao mais incauto dos colegas, no início
do ano lectivo aos que vinham da província, que na sua inocência caíam no logro
do «abelha». «O abelha» que nunca tinha tempo para estudar, mas que se gabava
que, no final do ano, iria ter o mesmo sucesso, como qualquer um dos outros que
estudava desde a escala de Mohs até ao cálculo dos azimutes, passando pela
mantissa dos logaritmos (sim naquele tempo não havia máquina de calcular), já que o «abelha» tinha o papá na algibeira e o tio na sacola da escola. O
«abelha» era um adesivo, um espermatozóide marado.
Lembrei-me
do «abelha» por causa do «calduço».
É
que o «abelha» era o líder dos praxistas que corriam o liceu à procura dos
desgraçados dos «bichos» (caloiros do liceu), a quem aplicava sempre um «calduço» após as sevícias
da bendita praxe, que o consagrava ao pedestal dos pedantes que só se
conseguiam impor pelo poder da veterania.
Pobre
«abelha»!
Hoje
pertence à SAPEC (Sociedade Anónima dos Polidores de Esquina de Coimbra), com
lugar cativo.
Qual
a razão pela qual aparece sempre um «abelha» na escola da vida?