segunda-feira, julho 20, 2015

(Re)Lendo


Jorge de Sena

Os paraísos artificiais
 
Na minha terra, não há terra, há ruas;

mesmo as colinas são de prédios altos

com renda muito mais alta.
 

Na minha terra, não há árvores nem flores.

As flores, tão escassas, dos jardins mudam ao mês,

e a Câmara tem máquinas especialíssimas para desenraizar as árvores.
 

Os cânticos das aves - não há cânticos,
mas só canários de 3º andar e papagaios de 5º.
E a música do vento é frio nos pardieiros.
 

Na minha terra, porém, não há pardieiros,
que são todos na Pérsia ou na China,
ou em países inefáveis.
 
A minha terra não é inefável.
A vida da minha terra é que é inefável.
Inefável é o que não pode ser dito.