terça-feira, julho 28, 2015

Re(Lendo)


 
Contratados

Longa fila de carregadores
domina a estrada
com os passos rápidos

Sobre o dorso
levam pesadas cargas

Vão
olhares longínquos
corações medrosos
braços fortes
sorrisos profundos como águas profundas

Largos meses os separam dos seus
e vão cheios de saudades
e de receio
mas cantam

Fatigados
esgotados de trabalhos
mas cantam

Cheios de injustiças
calados no imo das suas almas
e cantam

Com gritos de protesto
mergulhados nas lágrimas do coração
e cantam

Lá vão
perdem-se na distância
na distância se perdem os seus cantos tristes

Ah!
eles cantam...
(Agostinho Neto)

 

Agostinho Neto - foi um médico angolano, formado nas Universidades de Coimbra e de Lisboa. Foi presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola e, em 1975 tornou-se o primeiro presidente de Angola até 1979.
Fez parte da geração de estudantes africanos que viria a desempenhar um papel decisivo na independência dos seus países naquela que ficou designada como a Guerra Colonial Portuguesa. Foi preso pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) e, deportado para o Tarrafal, uma prisão política em Cabo Verde; sendo-lhe depois fixada residência em Portugal, de onde fugiu para o exílio.
Ironia do destino hoje lembrar-nos do poema de Agostinho Neto, precisamente face à denúncia do tráfico de seres humanos NO SEU PAÍS!
É UMA IRONIA TRISTE!
REVOLTANTE!