Fez no dia 11 de Maio, 34 anos que morreu Bob Marley.
Quero
partilhar este texto que descreve na perfeição o génio de um ser humano.
GOSTEI.
«Apesar
de terem sido escritas na década de 1960 e 70, as canções de Bob Marley
são tão atuais como há 50 anos. Mensagens de esperança, dignidade,
justiça, amor e união moldaram milhares de perspectivas, numa Jamaica
pós-colonial, pobre e oprimida. Juntou políticos rivais (em plena guerra
política) de mão dada em palco e alimentou pobres com royalties. São muitas as
histórias na vida e carreira do músico jamaicano.
Dotado
de um talento e estilo inconfundível, Bob Marley inspirou várias gerações com
as suas canções. Mas, e essa é uma das virtudes da música, por detrás de
uma boa canção estão (quase) sempre boas histórias.
Stir
It Up é a primeira faixa do Lado B de “Catch a Fire”, disco de 1973 dos The
Wailers. Ainda a sonoridade e história de Bob Marley estava a começar: a
gravação original soava a rocksteady e Marley ainda só era conhecido como
membro dos The Wailers (só em 1974, com o disco “Rasta Revolution”, proclamou
a individualidade ao intitular o grupo de Bob Marley & The Wailers).
Marley
casou-se aos 21 anos com Rita Marley e, apesar dos vários affairs ao longo da
vida, foi o relacionamento que o acompanhou até à morte. Em 1967, um ano depois
de se casarem, Bob Marley escreveu “Stir It Up”. Apesar desta canção estar
aberta a muitas interpretações — devido à ambiguidade da expressão “Stir It
Up”, que pode significar mudar de posição/provocar/agitar/incitar — Marley
escreve-a pensando em Rita. E isso não é novidade: Rita é a musa do cantor
jamaicano em muitas canções.
Apesar
de ter sido Bob Marley a compor a música, não foi ele que a celebrizou.
Marley escreveu esta canção para Johnny Nash, cantor e ator texano
conhecido pelo hit “I can see
clearly now”, que ficou impressionado com o talento do jovem Bob. Esta foi
a canção que fez a música dos Wailers chegar à Europa e ao resto do mundo.
Quando,
em 1973, o disco da “Stir It Up” foi lançado, a reacção foi notável: foram em
digressão abrir 13 concertos da lendária banda de soul Sly and the Family
Stone. A qualidade e sucesso da banda de Bob Marley foi tanta que,
apenas quatro espectáculos depois, os Sly and the Family Stone
despediram-nos: estavam a ser eclipsados pelo sucesso da banda de Marley.
Em
1976, uma tentativa de assassinato e o sucesso do disco “Rastaman Vibration”, a
primeira abordagem política e espiritual de Marley na música, deu-lhe um lugar
de destaque. O tiro que ia tirando a vida a Marley fê-lo fugir da Jamaica para
Inglaterra. O contacto com outro continente abriu-lhe novas perspectivas e
deu-lhe mais destaque. O sucessor de “Rastaman Vibration” foi muito
antecipado.
Foi
no verão de 1977 que saiu “Exodus”, o nono álbum de Bob Marley & The
Wailers. O disco está dividido em duas partes: o Lado A explora temas políticos
e religiosos e o Lado B aborda sentimentos, sexualidade e esperança. E
“Jammin’” tem uma mensagem simples: “quero fumar marijuana contigo e
conversar”. Mas aqui não há nenhuma má intenção, afinal de contas “Jammin’” é
uma acção rastafariana de sentar, relaxar, fumar cannabis e, amigavelmente,
discutir certos assuntos relacionados com a vida, filosofia e ética.
Em
1978, a circunstância política dava muito sentido à canção: a Jamaica vivia uma
guerra civil política entre o partido trabalhista, liderado por Edward Seaga, e
o partido social-democrata, liderado por Michael Manley. Para amenizar a
violência, foi criado o One Love Peace Concert e o sucesso do evento dependia
da presença de Bob Marley, que tinha exilado para Inglaterra. Marley aceitou o
convite e, enquanto tocava a “Jammin’”, os dois políticos rivais deram as
mãos num gesto de união, colocando-as no ar.
Enquanto
ocorria o simbólico acontecimento, ao som da icónica canção, Bob improvisava:
“Estamos a convidar alguns líderes a apertarem as mãos… Para mostrarem ao povo
que estão a amar da maneira correcta, para mostrarem que vão unir as pessoas,
para mostrarem ao povo que são cintilantes, para mostrar ao povo que está tudo
bem e que vai correr tudo bem.”
Tanto
a “Jammin’” como a “One Love” mereceram lugares de destaque em “Exodus”, um
álbum que é, para muitos, o magnum opus de Bob Marley. Mas este disco deu
mais canções intemporais. Uma delas é “Waitin’ in Vain”, sétima faixa do disco.
É uma canção para apaixonados, como só Marley sabe fazer: 4 minutos de puro reggae
inspirado pelo balanço soul, sensual e apaixonado de um Marvin Gaye, Al Green
ou Barry White.
Esta
canção foi inspirada na Miss Mundo de 1976, Cindy Breakspeare, com quem Bob
Marley se envolveu. Isto gerou muita polémica entre a imprensa, acusando Marley
de trair a mulher, Rita Marley. Apesar de ignorar publicamente os casos de Bob
Marley, Rita recusou sempre cantar esta música ao vivo.
As
saudades que Marley sentiu por Cindy Breakspeare foram escritas durante o
seu auto-exílio, em Inglaterra. Porque, uns meses antes de abandonar a
Jamaica, o tempo que Bob teve com Cindy Breakspeare serviu para fortificar o
romance e conceber Damien Marley, o popular
cantor Reggae. Outra faceta conhecida de Bob Marley é a sua extensa
paternidade: tem (oficialmente) 11 filhos.
Na
etapa final da sua vida, Bob Marley enfrentou os dilemas da própria
mortalidade. Quando, em 1979, lhe foi diagnosticado um cancro nos dedos dos
pés, Marley recusou qualquer tipo de intervenção médica. Ele estava ciente de
que, mais tarde ou mais cedo, o cancro ia espalhar-se e matá-lo. Mas Marley deixou
o seu legado bem claro na última faixa do seu último disco, “Uprising”.
“Redemption
song”, canção que fecha a carreira e vida de Bob Marley, é um dos melhores
resumos da sua visão: “Emancipem-se da escravatura mental, só vocês o podem
fazer”. Este pequeno excerto do tema é uma menção ao líder político jamaicano
Marcus Garvey, conhecido pan-africanista e uma das principais influências de
Marley. Quando
Marley foi entregar as demos para o disco “Uprising” à editora, um dos
responsáveis da discográfica sentiu que faltava alguma coisa. No dia seguinte
Marley apareceu com uma canção simples, fazendo-se acompanhar apenas por uma
guitarra, uma mensagem forte e uns acordes trovados ao estilo de Bob Dylan. Era
a “Redemption Song”, uma canção que demorou um dia a ser escrita. Esta
foi também a última canção que Bob Marley tocou ao vivo, em Pittsburg, em
Setembro de 1980. Nos últimos dias converteu-se à religião cristã ortodoxa da
Etiópia, sem nunca abandonar o rastafarismo.
Quem
nunca abandonou Marley foi a mulher, Rita. Ela relembra, na January Magazine, uma das últimas memórias que
tem de Marley. Ela estava com ele, segurando-lhe a cabeça enquanto cantava
“God Will
Take Care of You”, um famoso hino cristão. Rita começou a chorar,
pedindo-lhe para não a abandonar. Ele fitou-a nos olhos e disse “Abandonar-te
Rita? Porque é que estás a chorar? Não chores, Rita! Continua a cantar! Nunca
pares de cantar! Canta, sempre!”.
E
assim foi: a Rita e inúmeras pessoas continuaram a cantar, dando voz ao legado
que Bob Marley deixou, um legado que é intemporal. Haverá sempre Bob Marley
enquanto alguém cantar uma Canção de Redenção.»
BOB
MARLEY ÉS UM DOS MAIORES DE SEMPRE!
OBRIGADO
PELO LEGADO QUE NOS DEIXASTE!
PENA
É QUE NÃO SOMOS CAPAZES DE O REINVENTAR!