As recentes declarações de Passos Coelho acerca de Dias Loureiro durante a inauguração de uma queijaria em Aguiar da Beira estão para a nossa democracia como um nu integral do padre estaria no meio de uma qualquer missa de funeral.
Há
muito que os nossos políticos, e não falo só do governo, nos habituaram às mais
estapafúrdias e impensáveis declarações sobre tudo e mais alguma coisa. Mas
desta vez, Passos Coelho passou das marcas.
Dias
Loureiro é uma personalidade associada à falência do BPN, a qual correu bem
para alguns e muito mal para todos nós, tendo-nos já custado a módica quantia
de mais de 5 mil milhões de euros. É um homem que teve de demitir-se das
funções de conselheiro de Estado por ter mentido à Comissão Parlamentar de inquérito
do caso BPN! É um homem de quem são conhecidas as ligações a um libanês, de seu
nome Abdul Rahman El-Assir, naturalizado espanhol, seu sócio nos «negócios» do
BPN em Marrocos e Porto Rico, que acabou detido na Suíça na sequência de um
mandado de prisão emitido por Paris por associação ao “caso Karachi”, um caso
referenciado ao «negócio» de armas. Esse libanês, grande amigo de Dias
Loureiro, está referenciado por ter contraído entre 1999 e 2004 empréstimos
«tóxicos» no valor de mais de 50 milhões de euros junto do BPN… Dinheiro que
todos temos agora que pagar.
Dias
Loureiro estará para sempre diretamente associado a uma das referidas empresas
porto-riquenhas, a Biometrics, comprada pela SLN por 30 milhões de euros e
posteriormente vendida por um dólar a um fundo, pasme-se, do BPN, com o
consequente miraculoso “desaparecimento” dos tais 30 milhões de euros…
O
facto de Passos Coelho ter elogiado Dias Loureiro como uma referência no mundo
dos negócios e no “fazer pela vida” não é preocupante no contexto da habitual
solidariedade corporativa da politiquice partidária, que tudo desculpa e
endeusa. É preocupante por o primeiro-ministro não perceber realmente em que
mundo vive.
Numa
altura em que o país se afunda cada vez mais numa impagável dívida pública, hipotecando
de forma cruel o futuro das próximas três ou quatro gerações de portugueses e
trucidando sadicamente qualquer veleidade de sentimento de realista esperança
em relação ao presente, os elogios de Passos Coelho compõem a metáfora de um
pai que aconselha o filho toxicodependente a refugiar-se na confiança de quem
lhe fornece diariamente a dose que sustenta o vício. Passos Coelho não é apenas
um amigo dos seus amigos. É na verdade um imbecil que nos governa. Simplesmente
porque nós, os portugueses, é que ainda não percebemos como é que se faz pela
vida.
(Crónica no jornal O Interior - 14 de Maio 2015)