Hoje seria politicamente correto
falar dos atentados de França. Mas não o vou fazer por uma simples razão. O que
aconteceu em França ocorre, há décadas, um pouco por todo o mundo. E nessas
alturas por onde andou a indignação, onde ocorreram as manifestações, onde
esteve a imprensa? E como agora até há tantos a falar do assunto, prefiro
tratar de outra coisa.
Mas, apesar de tudo
deixo-vos uma reflexão. Será que depois da austeridade económica e financeira
que alguns europeus sofreram vem aí um aperto às liberdades dos cidadãos? É que
tudo parece indicar que tal vai acontecer. Pretexto já o têm, os mandantes.
Vou por isso falar
novamente do nosso hospital. O tal que mereceu uma requalificação apressada e
mal-amanhada e que propagandisticamente foi apelidado de novo. Parece que os
problemas são afinal mais do que muitos, o que prova que não são as paredes que
fazem um hospital.
Os pavilhões antigos, já
parcialmente desocupados, continuam a degradar-se e a demonstrar a forma
leviana como os poderes instalados olham para os nossos edifícios públicos.
A solução encontrada para
o estacionamento entronca na situação destes antigos pavilhões, onde continuam
a funcionar diversos serviços, criando novos problemas. De facto, numa cidade
em que os transportes públicos não chegam ao hospital, para além de agora os
utentes terem de pagar um estacionamento calibrado ao preço do ouro, só
conseguem aceder a esses pavilhões através do chamado novo edifício e passando
pela rua que separa o velho do novo. Mete dó ver pessoas idosas, com enormes
dificuldades de mobilidade, terem de se submeter ao clima do dia e a diversos
obstáculos à sua locomoção, só para conseguirem chegar ao seu destino.
Mas esses nem são os
maiores problemas. Como é do conhecimento público, um dos membros da
administração apresentou há alguns meses o seu pedido de demissão, o que é
normalmente sinal de grandes perturbações. Por outro lado, terminou em dezembro
a comissão de serviço da administração, mas a mesma mantém-se em funções. Dizem
as más-línguas que o problema reside na dificuldade em preencher todos os
cargos. Isso significa que a Guarda se arrisca, mais uma vez, em desespero, a
levar com refugo. Algo a que já nos habituámos. Basta olhar para a
administração atual, envolvida em escândalos e coisas do género, para perceber
do que falo.
O que faz um hospital são
as pessoas e quem as lidera. O exemplo que está em vias de cessar deveria
fazer-nos refletir na degradação da qualidade dos nossos gestores. Primeiro foi
Fernando Girão, tornado famoso por ter instaurado dezenas de processos a
médicos e a outros funcionários, alguns dos quais ficarão para a história como
campeões do ridículo, conseguindo no final ser condenado por nada mais, nada
menos, que cinco crimes!
Depois foi Ana Manso,
cujo único mérito é o de ter a certeza que nunca baterá o record das
condenações criminais de que foi alvo o seu antecessor. Mas, desde a novela de
ter favorecido o marido, até ao mais recente escândalo do recebimento ilegal de
dinheiros públicos, ficou um travo a dejá
vu. Acabou-se-lhe a carreira, mas pelos vistos não a vontade…
A seguir foi Vasco Lino,
um indivíduo com um passado de condenações criminais que conseguiu esconder até
à tutela. A sua gestão foi um desastre e vai demorar anos a reparar os estragos
que por cá causou. Há serviços em autêntica desagregação e uma indefinição
total em relação àquilo que será o futuro do nosso hospital no contexto da
Beira Interior. A boateira sobre fusões, anexações, extinções e outras
cessações continua, e Vasco Lino, a braços com os seus próprios problemas, nada
tem para dizer.
É por isso um milagre que
tenha dado à costa um denominado “prémio de excelência”, atribuído pela ERS ao
nosso hospital, ao melhor estilo das sociedades amigáveis de palmadinhas nas
costas. Já não sei se estes prémios servem para a ERS justificar a sua própria
existência, ou se servem apenas para propaganda do regime, destinada a tapar o
sol com a peneira.
A generalidade dos
profissionais com quem falei, riu-se. Eu, fiquei triste. É que, passado o Natal,
voltou-me a melancolia e um pressentimento de que não vem aí nada de bom. Que é
coisa já normal na Guarda. Como diz o povo, gato escaldado de água fria tem
medo!
Muito bom dia a todos…
(Crónica na Rádio F - 12 de Janeiro de 2015)