A
grave crise económica e social que nos tolhe o futuro tem muitas causas. Uma
delas, talvez a mais importante, radica nos muitos saques a que o país tem sido
sujeito. Políticos, banqueiros, especuladores, enfim, os novéis senhores
feudais, arrasaram por completo a já de si frágil economia de um país ávido de
apoios estatais e de capitais de duvidosa proveniência. O resto é a história
que se conhece: vigarices, falências, desemprego, miséria, desespero, violência
doméstica, suicídio, emigração, etc.
A
questão que se coloca é a de saber como saímos deste pântano. Olhando para
alguns exemplos que a história nos deixa, só temos, a prazo, uma saída: educar!Recordo-me de uma imagem de marca do período republicano que era capaz de readquirir espaço na crise atual: a universidade e a escola, em geral, deveriam colocar-se ao serviço dos grandes problemas nacionais e eleger tais questões como eixo da atividade de investigação e de ensino. Isto é, a educação deveria ter como objetivo principal encontrar, em cada momento, a resposta para os graves problemas do país. O problema é que a tarefa é simplesmente hercúlea. De facto, é preciso educar os políticos e o povo. Os alunos e os pais. Os médicos e os doentes. Os munícipes e os autarcas. Os leitores e os jornalistas. Os padres e os crentes. É preciso, afinal, educar toda a gente!
Em Portugal não existe uma consciência cívica com peso geral suficiente para nos arrancar do buraco. Mas existe muito medo. Medo de fazer qualquer coisa. Medo de perder o emprego. Medo do futuro. Medo dos outros. E até medo de sermos nós próprios.
A força de uma sociedade provém da consciência de que o interesse público supera sempre o interesse individual. De que o confronto dos diversos direitos deve cair para o lado do coletivo. E de que a alienação de cada um de nós relativamente à res publica tem, a prazo, um preço diretamente proporcional ao comodismo de nada se ter feito.
Portugal é aquele país em que, por exemplo, um partido poderia ser chefiado por um Duarte Lima ou por um Isaltino de Morais e, ainda assim, vencer eleições. É aquele país em que os telejornais abrem todos com vinte minutos de bola em dia de seleção. É aquele país em que os reality shows são a prova viva de que a imbecilidade compensa!
Há uns anos assisti, no norte da Europa, a uma cena que diz tudo. Ia, com uma amiga minha, para um congresso de professores sindicalistas. Como chegámos uns vinte minutos antes da hora marcada, havia imensos lugares de estacionamento disponíveis. A minha amiga estacionou o carro o mais longe possível da entrada, o que nos obrigou a um percurso pedonal de vários minutos. Quando lhe perguntei a razão para tal comportamento, explicou-me que era costume deixarem os lugares mais próximos da entrada para os desesperados que corriam o risco de chegar atrasados. E quando soube que era na escola que começavam a agir desta maneira, percebi como Portugal tem tantas probabilidades de sair desta crise como o meu cão de aprender a falar francês!
Oscar Wilde afirmava que a Educação é uma coisa admirável, mas que é bom recordar que nada do que vale a pena saber pode ser ensinado. Einstein, por outro lado, considerava a Educação como aquilo que resta depois de se ter esquecido tudo o que se aprendeu na escola. Para um terceiro autor, cujo nome já não recordo, Educação é aquilo que a maior parte das pessoas recebe, muitos transmitem e poucos possuem.
Por cá, pelos vistos, Educação é aquela coisa que faz com que, sendo as crianças tão inteligentes, a maior parte dos homens seja tão estúpida. Ou coisa parecida…
Com o início de um novo período letivo, a azáfama e, principalmente, a amargura de muitos pais em pagarem os transportes aos seus filhos é enorme. Sabemo-lo bem! Há uns anos, no governo de Cavaco foi decretada a escolaridade obrigatória até ao… 12º ano! Só que, na realidade, foi só anúncio enganador. Anos mais tarde, Sócrates sentiu necessidade de voltar a anunciar a escolaridade obrigatória até ao 12º ano. Só que, desta vez, anunciava-se que os transportes escolares para os alunos do 10º, 11º e 12º seriam gratuitos… a partir de 2012! Mas, logo um governo Coelho & Portas, com a chancela de um Cavaco, se apressou a dar o dito por não dito e a revogar, por decreto-lei, tal proposta de Sócrates. Hoje, os alunos que queiram prosseguir estudos, a partir do 9º ano, são obrigados a pagar verbas exorbitantes às transportadoras para usufruírem de um direito constitucional, um direito consignado na DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM… DIREITO À EDUCAÇÃO!
Ou será que também é um daqueles direitos constitucionais que foram adquiridos e agora perdidos?
(Crónica no jornal "O Interior" - 08 de janeiro de 2014)