As
Armadilhas do Progresso (do filme Surviving Progress),
por Maria Luísa
Monteiro Franco, 10 Dezembro, 2014
O
que é o progresso?
É
a pergunta que nos lança no início desta narrativa. Por entre vários
testemunhos de diferentes pontos do mundo e através de uma variedade de imagens
simbólicas ficamos a par de temas que vão desde a ciência evolutiva à história
das sociedades, dos serviços de ecossistemas à biologia sintética.
Ronald
Wright, autor de A Short History of Progress começa por
introduzir-nos ao conceito de “armadilhas do progresso”.
São
as novas tecnologias que, aparentando ter bons resultados a curto prazo, a
longo prazo se tornam insustentáveis.
É-nos
dado um exemplo: os nossos antepassados que descobriram como matar 2 mamutes de
uma só vez fizeram progresso mas aqueles que descobriram como matar 200 mamutes
com apenas uma derrocada puseram em risco o seu próprio recurso de
subsistência.
“Desde
a queda do Império Romano à viagem de Colombo, demorou 13 séculos para
adicionar 200 milhões de pessoas à população mundial. Agora é necessário apenas
3 anos” diz-nos a dada altura o filme. No entanto uma grande fatia da população
não tem ainda acesso ao nível de vida ocidental, ao qual aspira. A procura
potencial de recursos é assim enorme. Se, por um lado, são finitos os recursos
que sustentam este nível de consumo a que estamos habituados e a que muitos
mais aspiram, por outro lado, a economia que os gere tem estado desligada desta
realidade. O Congo e a floresta da Amazónia são dois dos casos que ilustram
como “os grandes” olham os recursos naturais dos países mais pobres: são meros
activos que estes países podem vender, retirando aos povos a possibilidade de
se auto-sustentarem, ao mesmo tempo que não contribuem para a criação de
instituições locais fortes.
Já
a propósito da Globalização, Robert Wright, autor de A Lógica Do Destino
Humano, diz que “alguns podem ter medo do momento actual, porque pela primeira
vez existe apenas um sistema. Portanto se tudo desaba, não teremos o que
tivemos nos colapsos anteriores. Mesmo que uma civilização fosse abaixo e
demorasse a recuperar, havia outras civilizações, as guardiãs do
progresso.”
Como
poderemos então escapar?
Para
o biólogo Creig Venter a solução está na biologia sintética.
Creig
investiga formas de desenvolver combustíveis a partir de algas, plantas que
possam crescer em lugares desertos ou mesmo novas fontes de alimentos. Defende
que estamos limitados apenas pela nossa imaginação e que “uns dos desafios da
espécie humana é que cada vez mais somos como deuses”.
Do
outro lado da moeda temos a visão de Jim Thomas, autor de Os Novos Biomestres:
“A biologia sintética é uma armadilha do progresso por excelência” e acrescenta
“no fim os micróbios vão acabar por rir, porque a vida não funciona assim”.
Este aponta o sistema de superprodução e de consumo excessivo como a raiz dos
problemas globais.
Quem,
por fim, nos vem falar de limites é Enio Beata: “o que essencialmente altera o
jogo as pessoas não querem ouvir: temos de consumir menos”!
Ao
sublinhar que as pessoas pobres precisam de mais, e que quanto a isso não há
argumento contra, todo o seu discurso dirige-se a nós.
Realça
o lado difícil desta mudança de paradigma mas não deixa de dizer de forma
veemente: “para mim este é o único começo”.
Descendo
de escala, ao nível do consumidor individual, chegamos ao exemplo de Colin
Beavan, autor do projecto Zero Impacto. Sentado no seu despojado apartamento
conta-nos como iniciou este projecto com um pequeno grupo de pessoas, na cidade
de Nova York. Durante um ano, este grupo experimentou um estilo de vida baseado
num baixo nível de consumo, reduzido ao essencial.
Afinal,
se a nível global as mudanças são lentas, a nível local podemos ir fazendo a
diferença. Foi esta a discussão gerada após o filme, na escola de verão do aTerra.
Como
dizia Enio Beata, ser contra-corrente pode ser difícil mas é o único começo.
O
que posso começar por mudar hoje?
EXCELENTE ANÁLISE!
IMPERDÍVEL.