«Se o homem falhar em conciliar a justiça e a liberdade, então falha em tudo».
Camus , Albert
Ainda não se apagaram os ecos do anúncio do encerramento da Delphi e já alguns mostram quão apegados se encontram aos vários poderes, nomeadamente, aos locais. Não há o discernimento suficiente e claro para perceber o que realmente está em causa.
Marx podia ter tido razão num sentido inesperado quando dizia que os fenómenos significativos ocorrem duas vezes na história. Da primeira vez, aparecem como tragédia; da segunda como comédia.
Ora, argumentar-se que a câmara municipal não tem como objectivo abrir ou fechar empresas é no mínimo anedótico. A tal comédia que Marx falava. Então quem se vangloriava e vangloria com o facto de uma empresa se vir a localizar na Guarda? Quem anuncia um investimento de milhares e milhares de euros por parte de uma Câmara FALIDA, para instalar um call center que se anunciava com centenas e centenas de «precários» trabalhadores que, apenas emprega umas poucas dezenas? Quem vem anunciar com a pompa de circunstância, já habitual, que vai haver continuidade na laboração de uma empresa no concelho? Esquecem-se de dizer é que a propagandeada «âncora do desenvolvimento», a PLIE, continua vazia e a deteriorar-se. Todos sabemos que a câmara não tem que abrir ou fechar empresas, todos sabemos. Só que há meios que devem ser colocados à disposição dessas empresas para se instalarem no concelho, e isso pouco ou nada tem sido feito.
Outro argumento utilizado é que quem aponta o dedo aos vários poderes pela inércia, incompetência e inépcia em prever a grave crise social é acusado de, pasme-se, querer que se baixassem os salários aos níveis dos praticados nos países de destino da deslocalização da empresa.
Pergunta-se, onde os falsos argumentistas leram tais intenções? Na verdade, o que tais personagens tentam fazer é confundir o que um dito governo português tem feito à massa salarial dos trabalhadores com a triste realidade do desemprego. Vergonhoso.
Não dizem, isso não lhes interessa é que a crise é e, vai ser grave para uma região. Isso, esquecem-se de dizer. Assim, como não sabem, não querem justificar a patética conferência de imprensa que o presidente da câmara e um governador civil deram para justificarem o injustificável. Para fazerem acreditar que algo estava a ser feito. Quando se quer fazer crer que algo está a ser feito, é não dizer nada e não fazer nada.
E, já agora porque razão, na dita conferência de imprensa, onde se anunciou, pasme-se, pateticamente, que o distrito e o concelho da Guarda em particular iria ter um «tratamento» especial em termos de investimento, não esteve um membro do governo?
Por exemplo o ministro da economia? Pois é, dar a cara nestas ocasiões, revela sentido de estado e da responsabilidade de governar. Só que, quando a mentira fez e faz a maneira de estar desta gente, já a cobardia é o melhor dos escudos.
Aparecer sim, já o fez o ministro da economia quando foi à «tomada de posse» de um novo administrador da Autoeuropa. Aí, quando se trata de salamaleques e bajulações, deve-se aparecer. No caso da Delphi da Guarda, outros o façam sem dignidade nem respeito por ninguém
Quando um dedo aponta para o céu, o imbecil olha para o céu!!!
Mas, se os aforismos vão sendo a explicação do muito que não se faz por cá, há, no entanto, outro caso da área da saúde, que importava um esclarecimento sério da administração da Unidade Local de Saúde da Guarda.
Segundo foi anunciado pela comunicação social o serviço de Obstetrícia do Hospital da Guarda está sem médicos em determinados turnos.
Num tempo em que tanto se fala de hospitais centrais há que estar atento a certos sinais, também eles perigosos, para o futuro da região.
Ou será que depois vamos ter uma outra conferência de imprensa a lamentar o sucedido?
Se a nível local a canícula faz estragos, então ao nível da política nacional não se espera grande melhoria.
Já há algum tempo que se vão dando os «passos» para que, na área da educação, sejam tomadas as medidas, que alguns esperam para o fim da escola pública.
Anunciaram-se encerramentos de centenas de escolas, com o argumento que os alunos seriam «transferidos» para novas e mais bem apetrechadas escolas. Engodo!!
Depois, argumentaram com a abertura dos centros escolares. Verdadeiras cercas para armazenamento de crianças e jovens.
Agora, anunciam-se os mega agrupamentos. A motivação “poupança” é logo posta em cima da mesa, negada, pavlovamente, pelos ministros e por pudores político-partidários.
Só que, e mais uma vez, o argumento não colhe. Nada se poupa na criação de entidades administrativas com 3000 alunos e 600 professores. É mais fácil alimentar uma capoeira do que um monstro, uma vara do que um “Vara”. A razão esfarrapada da parte do governo é que esta medida vai permitir que um aluno entre num agrupamento com 3 anos e só de lá saia aos 20. É a imobilidade escolar dos filhos a compensar a mobilidade laboral dos pais.
Mas, há mais.
Tudo isto está a ser feito meio em segredo e à pressa para criar o cargo de grande director, com direito a motorista e reforma vitalícia, e arranjar lugar para a "boyzada" antes que a «porca» mude de pocilga.
Ou seja, com a lógica da poupança vai haver é boa pança!!!
Pergunta-se, onde fica, com tanta e tanta alteração estrutural, a célebre Carta Educativa que as câmaras pagaram e BEM a uns doutos e conhecidos do meio partidário? Onde param? Aprovadas em Assembleias Municipais, gizadas ao gosto de certos morgados e, à vontade de muitos interesses eleitoralistas. Ao lixo milhares de euros!!! Só para isso.
É que de um ministério que o que disse ontem é hoje mentira, caso da «chumbada», na linguagem da «tia de cascais», tudo se pode esperar.
Será com toda a certeza o fim da escola pública e a assunção da escola privada para quem tiver posses para tal, claro!!
Por fim, ficamos todos os portugueses atónitos com o estado da Justiça. Sendo a pedra basilar da democracia quem, no seu estado perfeito pode acreditar num Procurador Geral da República que «segura» com tenazes de ferreiro a frágil conduta dos inquéritos e demais processos, quando os processos envolvem os poderosos?
Quem acredita??
(artigo publicado no jornal O Interior, 12/08/2010)