terça-feira, outubro 16, 2007

Adriano Correia de Oliveira


Vinte e cinco anos após a sua morte, Adriano Correia de Oliveira continua mais vivo do que nunca.

Recordo-me, ainda jovem do liceu, em Coimbra, ouvir pela primeira vez as baladas de revolta, protesto nas palavras e música do Adriano, em plena crise de 69.
Mais tarde, na faculdade, nos convívios de estudantes a presença do Adriano e do Zeca eram obrigatórias, com as «saídas» precipitadas quando a PIDE invadia os espaços.
As suas palavras incómodas para o regime, falavam abertamente da Guerra Colonial, da opressão, da fome, da miséria, da falta de liberdade, quer escrita quer de associação.
«A lira por ser ingrata/Tiranamente morreu/A morte a mim não me mata/Firme e constante sou eu»
Morreu, aos 40 anos.
Ouvir hoje a Trova do Vento Que Passa, não é saudosismo.
É perguntar pelo MEU mas também TEU País.
Para onde vamos?
Adormecidas as consciências, regressados os medos, as denúncias, as mordaças importa não deixar morrer aqueles que podem mudar as nossas vidas.

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoa
sai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não.