segunda-feira, julho 21, 2025

Crónica

 As promessas, a ilusão, o circo e a peixeirada

    A última Assembleia Municipal da Guarda, realizada a 27 de junho de 2025, teve de tudo para ser considerada um palco por onde desfilaram, mais uma vez, ilusões, faltas à verdade, glorificações, má educação, desrespeito por todos e, principalmente, pelos representados, os munícipes.

Um péssimo exemplo do que deve ser o exercício responsável do dever e de obrigações inerentes ao cargo de deputado e dos que ocupam lugares cimeiros nos destinos do concelho. Um péssimo exemplo para jovens e adolescentes daquilo em que se transformou a política.

    Tudo o que escrevermos não é, nem de longe, nem de perto, “dizer mal da Guarda”.

Respeitamos a cidade, o seu concelho, e as suas gentes.

Coisa bem diferente, perceba-se, é criticar com veemência e rigor tudo de mal que querem fazer à Guarda. Iludirem os guardenses, criarem falsas expectativas, usarem de todos os malabarismos, contorcionismos e outros estilos são tudo menos seriedade política.

    Voltou a falar-se da recuperação do pavilhão Rainha Dona Amélia. Não se prenda, senhor presidente, a falsas esperanças ou à criação de mais ilusões. Se ao longo dos anos, nem o governo central, nem as administrações da Unidade Local de Saúde preocuparam-se em recuperar o que quer que fosse, seja o pavilhão em causa, sejam todos os outros imóveis, é sinal mais que evidente que todos, mas todos mesmo, se estão nas tintas para essa ideia de que “conhecer o passado é saber de onde viemos, o que somos e para onde vamos”. O senhor, na sua qualidade – há anos – de agente político, deu o seu contributo para esta situação a que se chegou, por muito que o queira negar. Mais realista é compreender-se que o presente e o futuro devem orientar-se sobretudo para a existência da própria Unidade Local de Saúde que corre sérios riscos de se transformar num centro de saúde. Sabe-o bem, mas oculta! Ou então nem sequer percebe esse perigo que nos aflige. Grave, muito grave.

    E o que dizer do empréstimo aprovado em executivo camarário e agora aprovado em Assembleia Municipal e a seguir remetido a grande velocidade, antes que se faça tarde, ao Tribunal de Contas? Foi dito pelo senhor presidente que 1 milhão e seiscentos mil euros do empréstimo será uma gota no projeto, desde as célebres expropriações até à sua execução completa. Não quis avançar com um número para toda a obra. Mais uma vez os guardenses, e muito, em especial os vindouros, devem preocupar-se com as dívidas que irão condicionar e de que maneira, as suas vidas.

    Que dizer da transformação do “desporto” em tema de bajulações, rendilhados, punhos de renda para marqueses e razão para pateiros se vangloriarem? O desporto deve ser entendido como um elemento, mais um, do universo do desenvolvimento completo do ser humano e nunca como algo primordial e dominante. Nada mais do que isso. Mas, dito isto, todos os munícipes devem ser considerados na prática, sempre útil, do desporto. Condições?

Deixem-se, mais uma vez, de tentarem iludir-nos. Há espaços e condições oferecidos a certos cidadãos para a prática desportiva que, em confronto com os que existem para a grande

maioria dos cidadãos, são vergonhosos. Há clara e efetiva desigualdade de tratamento!

    Falar de transportes públicos? Obsoletos, sem campainhas, com avarias e mais avarias. Regozijam-se com o fato de terem aumentado os números de utilizadores dos transportes públicos. Mais uma ilusão! Aumentam porque o custo de vida aumenta consideravelmente e os guardenses, mesmo com transportes públicos em péssimo estado, são forçados a utilizá-los.

    Muito mais havia a dizer acerca do que se passou naquela Assembleia Municipal. Falta espaço! No entanto, não devo deixar de dizer que todos podem ser candidatos ao lugar de deputados, mesmo condenados por corrupção. Mas, todos, logo que eleitos e ainda por cima eleitos para o lugar de presidente da Assembleia Municipal, devem deixar de ser deputados do partido A, B ou C, ou de qualquer coligação, ou movimento pelo qual foram eleitos. Devem ser isentos nas tomadas de posição, estarem acima de qualquer suspeita de favorecimento e cumprirem e fazerem cumprir, a todos, o regimento.

É pedir muito?


(Crónica Jornal "O INTERIOR" - 7 julho 2025)