E os portugueses continuam a assistir atónitos à sucessão de acontecimentos que envergonhariam o pior dos regimes políticos do planeta. Depois da trágica-comédia da demissão do primeiro-ministro António Costa devido, supostamente, a um parágrafo de um comunicado da Procuradoria-Geral da República, eis que o Presidente se vê envolvido num caso de favorecimento a um pedido do filho.
Se no caso do primeiro-ministro e após oito anos de nepotismo, compadrio, ascensão a lugares de chefia da administração pública de néscios, parasitas e homens e mulheres do aparelho partidário Socialista que culminaram em escândalos, demissões e suspeitas de corrupção, só faltava mesmo um Marcelo, presidente da República, cair do pedestal ao ser responsabilizado de ter sido usado, qual inocente e menino de coro, numa cunha do filho.
Deixemos o caso do primeiro-ministro, pois muita água irá correr debaixo das pontes até que o caso ou casos vejam a luz-do-dia. Se é que algum dia tal acontecerá. Exemplos anteriores não auguram nada de concludente.
Já o caso que envolve o Presidente da República é diferente em todos os aspectos. Desde logo não trará consequências institucionais. O caso das gémeas luso-brasileiras é a prova provada que o nepotismo, o social porreirismo existem na área governativa como existem nos serviços mais simples da administração pública. Marcelo como presidente da República devia fazer aquilo que muitas vezes repetiu em comentários nos vários canais de televisão por onde foi passando: “À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta”. Marcelo caiu na armadilha de aceitar um pedido do próprio filho. E mais uma vez os portugueses assistiram ao truque já várias vezes usado por banqueiros, CEOs, dirigentes desportivos e toda uma panóplia de supostos acusados atacados por um qualquer vírus que lhes bloqueou a memória. De nada ou coisa nenhuma se lembram.
O próprio Marcelo demorou um mês a refazer aquilo que agora se chama a fita do tempo. Diria que são fitas muito tristes e nada sérias.
A começar pela conferência dada por Marcelo numa cave do Palácio de Belém, reveladora da encenação que Marcelo dá a tudo o que faz. A simplicidade da sala, as paredes brancas e despidas de quaisquer adornos, a rudeza das mesas e cadeiras.
Tudo, mas tudo a recordar-nos tempos idos da austeridade, simplicidade e desprezo pelas coisas materiais tão apregoadas pela vida celibatária do ditador Salazar. Tudo igual. Os bilhetinhos trocados com o ditador continham muita informação sobre a arte de bem enganar uns tótós. Uma casa portuguesa, com certeza. Aquela encenação da sala fez-me lembrar um célebre quadro, que existia naqueles tempos da ditadura, em todas as salas de aula das escolas públicas. Uma casa portuguesa com o título de “A Lição de Salazar”.
Marcelo igual a si mesmo. Um verdadeiro escorpião que como na fábula mata o sapo que o quis ajudar a atravessar o riacho. Aprendeu bem. Por trás dos ditos retratos de duvidosos afectos, repletos de comentários inapropriados, inconvenientes, depreciativos a decotes e ao peso dos cidadãos, arrastando jornalistas sem qualquer sentido crítico, sem saberem de onde vieram e para onde vão, a acompanharem-no a comer um gelado, felizmente com uma colher e não com a testa, a ir ao Multibanco ou a fazer uma visita guiada ao local onde foi cometido o crime horrendo contra os Távoras, em noite de demissão do Governo e tantos outros casos que são e foram um desprezo pelos portugueses.
Face a todos os acontecimentos que arrastaram e arrastam as instituições, todas elas, para o maior caos alguma vez acontecido na História deste nosso Portugal, pergunta-se.
É assim que são dados exemplos, valores e princípios aos jovens e à sociedade? Quem se pode admirar da falta de empenho, dos comportamentos da juventude face ao descalabro provocado por acontecimentos imorais perpetrados pela elite governativa? Já a sociedade caminha a passos largos para o descrédito nas instituições e apoia o populismo e a chegada da extrema-direita ao poder. Tudo por culpa de uma elite que não percebe nem quer perceber que a tal democracia representativa podre e abalada por escândalos é o regresso dos tempos negros de obscurantismo que nos vai privar de tudo, começando desde logo pela mais elementar de todas as liberdades, a liberdade de pensar. Estamos quase lá infelizmente. Recuso-me a aceitar que no meu país volte a vigorar um regime ditatorial como o que se viveu antes do 25 de Abril de 1974. Precisamente há quase 50 anos derrubado. Triste ironia do destino.
Lembro as palavras de Salgueiro Maia: “Não se preocupem com o local onde sepultar o meu corpo. Preocupem-se é com aqueles que querem sepultar o que ajudei a construir”. Salgueiro Maia sabia bem como a elite governativa sabe erguer o estendal das ocasiões perdidas e falhadas em proveito próprio e em prejuízo do povo.
Tenham uma boa semana.
Se no caso do primeiro-ministro e após oito anos de nepotismo, compadrio, ascensão a lugares de chefia da administração pública de néscios, parasitas e homens e mulheres do aparelho partidário Socialista que culminaram em escândalos, demissões e suspeitas de corrupção, só faltava mesmo um Marcelo, presidente da República, cair do pedestal ao ser responsabilizado de ter sido usado, qual inocente e menino de coro, numa cunha do filho.
Deixemos o caso do primeiro-ministro, pois muita água irá correr debaixo das pontes até que o caso ou casos vejam a luz-do-dia. Se é que algum dia tal acontecerá. Exemplos anteriores não auguram nada de concludente.
Já o caso que envolve o Presidente da República é diferente em todos os aspectos. Desde logo não trará consequências institucionais. O caso das gémeas luso-brasileiras é a prova provada que o nepotismo, o social porreirismo existem na área governativa como existem nos serviços mais simples da administração pública. Marcelo como presidente da República devia fazer aquilo que muitas vezes repetiu em comentários nos vários canais de televisão por onde foi passando: “À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta”. Marcelo caiu na armadilha de aceitar um pedido do próprio filho. E mais uma vez os portugueses assistiram ao truque já várias vezes usado por banqueiros, CEOs, dirigentes desportivos e toda uma panóplia de supostos acusados atacados por um qualquer vírus que lhes bloqueou a memória. De nada ou coisa nenhuma se lembram.
O próprio Marcelo demorou um mês a refazer aquilo que agora se chama a fita do tempo. Diria que são fitas muito tristes e nada sérias.
A começar pela conferência dada por Marcelo numa cave do Palácio de Belém, reveladora da encenação que Marcelo dá a tudo o que faz. A simplicidade da sala, as paredes brancas e despidas de quaisquer adornos, a rudeza das mesas e cadeiras.
Tudo, mas tudo a recordar-nos tempos idos da austeridade, simplicidade e desprezo pelas coisas materiais tão apregoadas pela vida celibatária do ditador Salazar. Tudo igual. Os bilhetinhos trocados com o ditador continham muita informação sobre a arte de bem enganar uns tótós. Uma casa portuguesa, com certeza. Aquela encenação da sala fez-me lembrar um célebre quadro, que existia naqueles tempos da ditadura, em todas as salas de aula das escolas públicas. Uma casa portuguesa com o título de “A Lição de Salazar”.
Marcelo igual a si mesmo. Um verdadeiro escorpião que como na fábula mata o sapo que o quis ajudar a atravessar o riacho. Aprendeu bem. Por trás dos ditos retratos de duvidosos afectos, repletos de comentários inapropriados, inconvenientes, depreciativos a decotes e ao peso dos cidadãos, arrastando jornalistas sem qualquer sentido crítico, sem saberem de onde vieram e para onde vão, a acompanharem-no a comer um gelado, felizmente com uma colher e não com a testa, a ir ao Multibanco ou a fazer uma visita guiada ao local onde foi cometido o crime horrendo contra os Távoras, em noite de demissão do Governo e tantos outros casos que são e foram um desprezo pelos portugueses.
Face a todos os acontecimentos que arrastaram e arrastam as instituições, todas elas, para o maior caos alguma vez acontecido na História deste nosso Portugal, pergunta-se.
É assim que são dados exemplos, valores e princípios aos jovens e à sociedade? Quem se pode admirar da falta de empenho, dos comportamentos da juventude face ao descalabro provocado por acontecimentos imorais perpetrados pela elite governativa? Já a sociedade caminha a passos largos para o descrédito nas instituições e apoia o populismo e a chegada da extrema-direita ao poder. Tudo por culpa de uma elite que não percebe nem quer perceber que a tal democracia representativa podre e abalada por escândalos é o regresso dos tempos negros de obscurantismo que nos vai privar de tudo, começando desde logo pela mais elementar de todas as liberdades, a liberdade de pensar. Estamos quase lá infelizmente. Recuso-me a aceitar que no meu país volte a vigorar um regime ditatorial como o que se viveu antes do 25 de Abril de 1974. Precisamente há quase 50 anos derrubado. Triste ironia do destino.
Lembro as palavras de Salgueiro Maia: “Não se preocupem com o local onde sepultar o meu corpo. Preocupem-se é com aqueles que querem sepultar o que ajudei a construir”. Salgueiro Maia sabia bem como a elite governativa sabe erguer o estendal das ocasiões perdidas e falhadas em proveito próprio e em prejuízo do povo.
Tenham uma boa semana.
(Crónica Rádio F - 11 de Dezembro 2023)