Em Dezembro de 2011, poucos dias após a tomada de posse do actual conselho de administração da ULS da Guarda, o Bloco de Esquerda apresentou uma moção à Assembleia Municipal que, no essencial e na sua primeira versão, propunha o seguinte:A Assembleia Municipal da Guarda deseja que o novo conselho de administração da ULS saiba e queira assumir as suas responsabilidades em defesa de um património humano e material absolutamente vitais para o desenvolvimento e sobrevivência da nossa terra.
E acrescentava:
Em nome da clareza de processos, lançar desde já à nova presidente do conselho de administração o desafio de liderar um movimento supra-partidário em defesa da maternidade da Guarda de cujo sucesso faça depender o seu próprio exercício do cargo.
A Assembleia Municipal da Guarda lança o repto à Dra. Ana Manso de anunciar publicamente que se demite do cargo que acaba de ocupar caso a maternidade da Guarda seja encerrada, mostrando desta forma que põe de facto os interesses da sua terra e região acima de quaisquer outros.
Concluía-se:
Que o novo conselho de administração diga claramente à população e a esta Assembleia Municipal se vai ou não haver obras de remodelação dos velhos pavilhões. Para quando o seu início? Para quando a sua conclusão?
Para que a moção fosse aprovada, o Bloco de Esquerda foi obrigado a atender a alguns argumentos invocados por deputados municipais do PSD, do PS e do CDS.
No caso dos argumentos invocados pelo líder parlamentar do PSD, recordo-me que aquilo que o chocou na versão inicial da moção foi a sugestão para que Ana Manso fizesse depender a permanência no cargo do sucesso da luta pela maternidade da Guarda.
Por outras palavras, na óptica do PSD (partilhada, diga-se, pelo PS), nem pensar em sugerir a Ana Manso que pusesse a sua cabeça no cepo pela maternidade.
Como considerámos que muito mais importante do que isso era a aprovação da moção, aceitámos retirar o parágrafo que tanto incomodou o PSD.
Compreendemos muito melhor agora o que incomodava o PSD e o deputado João Correia.
Poucos dias depois da Entidade Reguladora da Saúde ter tornado público um Estudo para a Carta Hospitalar, através do qual percebemos que há uma intenção “técnica” de encerrar a maternidade da Guarda, a presidente do conselho de administração da ULS anunciou o seu novo projecto para o hospital.
E que projecto!
De um plano inicial de obra orçado em 100 milhões euros (40 milhões para a 1.ª fase e 60 para a 2.ª), surge agora, como por milagre, uma “coisa” em que a 2.ª fase se divide em 4 com um custo já não de 60 milhões mas de 5,7 milhões.
E como consegue Ana Manso este verdadeiro milagre?
De uma forma muito simples: destruindo o hospital.
De um projecto inicial de 100 milhões de euros ficaremos reduzidos à tal “coisa” em que 88% da verba (40 milhões de euros) é aplicado na ampliação (1.ª fase) e 12% (5,7 milhões de euros) na 2.ª, 3.ª, 4.ª e 5.ª fases.
Segundo as notícias saídas na imprensa, a presidente do conselho de administração apresentou a médicos, enfermeiros e autarcas do distrito um plano irrealista, virtual e suicida.
Pretende transformar um remendo num outro remendo com metade da área, por um décimo do preço em prazos absolutamente irrealistas.
Só para se ter uma ideia, os prazos propostos para a remodelação do pavilhão n.º 2 (onde se previa que viesse a funcionar a maternidade) decorreriam de Junho a Dezembro de 2012. Leram bem: Junho. Acontece que de Junho já se foi metade e naquele pavilhão continuam a funcionar em pleno a urgência, o bloco operatório, a cirurgia, a ortopedia, etc., etc., à espera que o novo pavilhão fique pronto.
Tudo isto no meio de um turbilhão que envolve valências clínicas à beira de serem perdidas para a Covilhã, como é o caso da maternidade.
Um verdadeiro delírio.
Voltando à moção de Dezembro, confessamos que o repto que o Bloco de Esquerda pretendia que fosse lançado à Dra. Ana Manso ia no sentido de que queria acreditar que os interesses do hospital, da Guarda e das suas gentes vinham sempre à frente de quaisquer ambições políticas ou pessoais da presidente do conselho de administração da ULS.
Engano.
Ana Manso prefere ser presidente de coisa nenhuma do que colocar em risco um cargo de nomeação político-partidária, um job típico dos tempos que vivemos.
Compreendemos agora muito bem as reservas ao primeiro parágrafo da moção colocadas pelo deputado municipal do PSD.
Interessa-nos pouco ou nada o que o PSD local possa ter a ganhar ou a perder com esta proposta delirante de Ana Manso; tampouco nos interessam os ganhos políticos do PS com este estampanço do rival.
Interessa-nos, isso sim, que os interesses da Guarda sejam defendidos, pelo menos uma vez na vida, com seriedade e sem corporativismos partidários e é aí que têm que entrar na liça as pessoas de bem que todos os partidos tenham, sejam o PSD, o PS, o BE, o CDS ou o PCP.
Lançamos agora o repto que não concretizámos em Dezembro: Dra. Ana Manso, faça um favor a todos os guardenses e demita-se.
Com urgência.
(artigo publicado no jornal «O Interior» em 13 de Junho de 2012)
(artigo publicado no jornal «O Interior» em 13 de Junho de 2012)