domingo, agosto 17, 2014

O calduço do «abelha»


Nos meus tempos de escola, havia aquele indivíduo que se «armava» em «xico esperto», que engraxava os sapatos aos professores, acusando os colegas de todas as asneiras que ele próprio fazia. A este personagem apelidava-o a turma de «abelha». O «abelha» era o típico indivíduo que gostava de fazer «piscinas» na Visconde da Luz, em Coimbra, que cravava o café ao mais incauto dos colegas, no início do ano lectivo aos que vinham da província, que na sua inocência caíam no logro do «abelha». «O abelha» que nunca tinha tempo para estudar, mas que se gabava que, no final do ano, iria ter o mesmo sucesso, como qualquer um dos outros que estudava desde a escala de Mohs até ao cálculo dos azimutes, passando pela mantissa dos logaritmos (sim naquele tempo não havia máquina de calcular), já que o «abelha» tinha o papá na algibeira e o tio na sacola da escola. O «abelha» era um adesivo, um espermatozóide marado.
Lembrei-me do «abelha» por causa do «calduço».
É que o «abelha» era o líder dos praxistas que corriam o liceu à procura dos desgraçados dos «bichos» (caloiros do liceu), a quem aplicava sempre um «calduço» após as sevícias da bendita praxe, que o consagrava ao pedestal dos pedantes que só se conseguiam impor pelo poder da veterania.
Pobre «abelha»!
Hoje pertence à SAPEC (Sociedade Anónima dos Polidores de Esquina de Coimbra), com lugar cativo.

Qual a razão pela qual aparece sempre um «abelha» na escola da vida?