Com a aproximação da época carnavalesca surgem sempre no espectro comunicacional, todo ele, alegorias, farsas e novelas que combinam na perfeição com o que o professor Noam Chomsky chamou “Estratégias de Manipulação”. São vários os exemplos que cá pelo burgo se vão a dar a conhecer. Anunciam-se projectos sem fim, traz-se para a ribalta o habitual caso do Hotel Turismo da Guarda, sempre, mas sempre tema em eleições autárquicas e sem resultados práticos mesmo com o anúncio de promessas e juras da aquisição do imóvel por clientes que nunca ninguém viu ou conheceu, ou sequer foram dados a conhecer. Só manipulações e os guardenses engolem em seco mais e mais mentiras. Deixemos, por enquanto, o caso Hotel Turismo dado que segundo se diz há passos a serem dados, resta saber em que direcção e analisemos o verdadeiro caso pré-época carnavalesca - a construção de um hospital privado na Guarda. O tema do hospital privado na cidade da Guarda é algo que diz respeito a todos os habitantes do distrito. Como tal importa perceber que o caso não é apenas local, mas distrital. Aliás, como também devia ser o entendimento a dar à Unidade Local de Saúde da Guarda que tem uma abrangência distrital, mas que muitos, mesmo dos que a tutelam fingem desconhecer. Os habitantes do distrito da Guarda e, principalmente, os guardenses ficaram atónitos pelo anúncio do executivo camarário da Guarda, liderado pelo independente Sérgio Costa, da construção de um hospital privado na cidade, o Hospital São Mateus. É bom lembrar que há quatro anos, aquando das eleições autárquicas, o então candidato do PSD e presidente da câmara da Guarda, Chaves Monteiro, anunciava com pompa circunstância um hospital privado para a Guarda, ali na zona do antigo matadouro. Tudo, mas mesmo tudo com direito a foto com todo o executivo da altura presente. O candidato independente Sérgio Costa criticou a medida e logo que chegou ao poder decidiu travar o processo. Hoje, muda de opinião e apresenta um hospital privado, mudando apenas o patrocinador. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. O hospital privado terá localização em terrenos camarários que fazem confronto com terrenos da CERCIG que há muito solicitava a aquisição daquele espaço para um projecto na área dos Cuidados Continuados. Ora aqui chegados importa desde logo analisar a prática política do executivo camarário da Guarda, liderado por Sérgio Costa, baseada na ocultação aos cidadãos de tudo, mas tudo, o que directa ou indiretamente lhes diz respeito, a total falta de transparência nos actos, na lisura dos mesmos, nas faltas à verdade, nos compadrios e tudo mais que está por mais evidente neste caso dos terrenos vendidos a uma empresa que irá construir o dito hospital privado. Mas quem pode ficar admirado com tais práticas? Ou anda muito distraído, ou regressou recentemente de Marte. Para quem, como nós, estivemos na primeira linha da defesa da nossa maternidade que alguns queriam encerrar, aquilo que está em causa é a defesa do Hospital Sousa Martins. Tudo o resto são questiúnculas de lana-caprina que podem interessar ao debate político, mas que pouco ou nada dizem ao cidadão comum. O cidadão comum preocupa-se isso, sim, com a qualidade do serviço, no caso vertente o da saúde. Dizer-se como o fez o presidente Sérgio Costa que o hospital privado vem acrescentar às estruturas existentes é mais uma falácia. Não acrescenta, retira. Voltando às dez Estratégias de Manipulação de Noam Chomsky este é o verdadeiro caso de estimular no povo a ser-se complacente com a mediocridade. O que realmente está em causa é a continuação acelerada da destruição do Serviço Nacional de Saúde. Hoje temos um hospital privado a chegar à Guarda, amanhã não espanta que sejam os centros de saúde a serem adquiridos pelos privados. As ameaças já começaram. Aquilo que um qualquer político sério e responsável com a qualidade de vida dos seus concidadãos deveria promover seriam políticas de toda a índole que fixassem as populações e nomeadamente atraíssem profissionais para as estruturas hospitalares existentes. Ora, ao promover-se um hospital privado em concorrência desleal com um serviço público está-se a contribuir para a sua degradação e a cavar ainda mais o fosso entre cidadãos que podem pagar os serviços no privado e muitos que não o podem fazer. Dizer-se que a saúde não é um negócio pode soar a um chavão, mas a realidade nua e crua é que ela, a saúde, pode determinar a vida ou a morte e a qualidade de vida nos cidadãos. Precisamos de centros de saúde com médicos de família para todos, com pediatria e ginecologia e meios de diagnóstico. Urgências abertas. E hospitais de qualidade com gestão democrática, e salários dignos. Não queremos gestores da área da saúde que odeiam ser médicos e enfermeiros e adoram mandar, formados em cursos de gestão da saúde, especializados em comunicação das tragédias como sucessos de “eficiência”. Dizer-se que no concelho da Guarda não há doentes sem médico de família é mentir. Em nada contribui para a credibilização do Serviço Nacional de Saúde. Sejam, ao menos, sinceros. Vejam se entendem o que realmente está em causa. Tudo o resto é distracção e o mesmo de sempre, falta de responsabilidade.
Tenham uma excelente semana.