Foi uma daquelas personagens tão inesquecíveis que chegou a dar o nome aos seus continuadores, e ainda hoje, em plena República, os “Triboulet” proliferam para divertimento das elites e como bálsamo para adormecer as dores e sofrimentos de uma vida trágica do povo.
Para constar, o bobo Triboulet, o verdadeiro, inspirou Victor Hugo e até Giuseppe Verdi. Hoje as imitações de Triboulet estão por todo o lado a iludirem de forma por vezes trágica as amarguras de uma vida. Nem preciso de me socorrer da encenação de certas inaugurações que vão a decorrer pela Guarda, desde logo pela patética teatralização da recepção ao rei “Fundador” com o foral atribuído à cidade a ficar registado em bronze. Consultem-no se para tal tiverem engenho e arte! Mas muitas outras manifestações fazem-nos lembrar o bobo Triboulet. Inaugurações ridículas e assaz confrangedoras ocorreram e continuam a ocorrer nesta Guarda cada vez mais depauperada, sem futuro e com o despovoamento a acentuar-se. Só não vê quem não quer ou tem as mãos bem untadas com os óleos da bem-aventurança do poder instalado. Esta é a última crónica antes da pausa para as festas próprias desta época: Natal e Passagem de ano. Como não podia deixar de ser, teríamos de falar do muito que se vai a gastar nas festas que se avizinham. Mas não se julgue que o desperdício de todos os recursos é exclusivo do poder instalado na Câmara da Guarda. Longe disso. Cada terra, desde as de maior dimensão até às mais pequenas, rivalizam na programação dos festejos. Dizem-nos que Portugal tem a maior árvore de Natal da Europa! Ridículo, um desrespeito pelos milhões de pobres que vão a existir em Portugal. Dos serviços públicos a não funcionarem, desde as urgências nos hospitais transformadas em locais de despejo de cidadãos que aguardam horas e horas por uma consulta, as urgências de portas fechadas, de cidadãos sem médico, dos preços dos medicamentos a subirem a cada dia, de cidadãos que dada a carestia de vida, sem poder de compra, têm que optar entre a comida à mesa, o pão que o diabo amassou, ou o remédio. Com um país onde a habitação, digna e acessível, é uma miragem. Com a especulação imobiliária a dar lucros exorbitantes aos mesmos de sempre. Num país onde os níveis de aprendizagem nos colocam nos piores lugares a nível europeu. Uma justiça que é feita e aplicada conforme o poder económico de cada cidadão. Justiça para ricos e justiça para pobres. Quem hoje em dia pode recorrer aos tribunais e muito menos apresentar recursos? E o poder de compra da grande maioria dos portugueses a diminuir? Quem pode ficar indiferente ao facto dos regedores de serviço gastarem mais de 10 milhões e 400 mil euros só este ano com as iluminações de Natal? Lembrar que não são só os municípios a gastarem verbas astronómicas, também há juntas de freguesia a fazê-lo! Tudo bem claro e fácil de perceber. As eleições estão à porta. Há que satisfazer clientelas e principalmente agradar incautos e acéfalos cidadãos! Fixemo-nos aqui pela Guarda! O evento de animação “Guarda – Cidade Natal” conta este ano com uma árvore, um carrossel parisiense, mini roda, mercadinho de Natal, comboio de Natal em Trilho, a casa do Pai Natal, tudo instalado na Praça Luís de Camões. Ou seja, mesmo em frente à Sé, combinando o pagão com o religioso, na dita sala de visitas da cidade da Guarda e mais escabroso de tudo, escondendo o nosso rei D. Sancho I remetido a um canto. Ontem eram só celebrações a lembrar o rei “Povoador”, hoje esquecido. Encoberto pelas diversões da “Cidade Natal”. E que dizer da novidade dos Tuc-Tuc! Uma iniciativa digna de um Triboulet. Continuo a achar que na Câmara da Guarda não há imaginação apenas copiar o que outros fazem ou fizeram. Tantos exemplos! Abram um concurso de ideias e vão ver que iniciativas com qualidade e sem necessidade de as adquirir por catálogo irão surgir. Mas concursos com transparência. Já o Jardim José de Lemos apresenta, novamente, aquilo que o executivo camarário chama criatividade da comunidade educativa do concelho. Será? Lá estão as Instituições de Solidariedade Social, do Conselho Municipal de Juventude da Guarda e as escolinhas. As mesmas barracas de outros tempos e com os mesmos intervenientes a fazerem prova de vida. Só falta o comboio pela cidade, os carrinhos de choque na Alameda de Santo André para desviar mais e mais alunos das aulas. E por fim não esquecer as luzes espalhadas por algumas ruas e praças da cidade. Lembrar que a aquisição de Serviços de Concepção, Implementação e Produção do Evento “Guarda, A Cidade Natal 2024”, segundo dados publicados no portal Base somam a módica quantia de 195 300 € mais IVA. Já a aquisição de Serviços para Aluguer de Iluminação de Natal 2024 custa 114 750€ mais IVA, ou seja, mais 3 750 euros do que no ano passado. Tudo, mas mesmo tudo por ajuste directo, este como todos os outros eventos! A transparência é tão linda quando propagandeada ao vento, mas, na prática, só alçapões e tudo bem escondido. Como sempre ao cidadão chega-lhe pagar a factura. O resto é-lhe vedado o conhecimento! E depois ainda nos veem com a treta de que mais cedo ou mais tarde, as finanças da autarquia vão ficar depauperadas! Segundo palavras do presidente da câmara Guarda! Mas ainda não estão? Duvida-se. Para quê tanta insistência nos empréstimos? Mesmo com o aviso de falência, o novo-riquismo e as traquinices de um Triboulet continuam. Meio milhão para as festas de Natal é coisa que não preocupa o executivo camarário, pelos vistos. Quem vier depois, que apague as luzes! E não esquecer os 1 200 cabazes de Natal no valor de 29 640€ mais IVA. Será para distribuir pelos funcionários municipais? Já são tantos? É que nem o número de funcionários querem informar os munícipes. O que escondem? Reafirmo que os dados aqui citados estão disponíveis no portal Base onde constam, ou devem constar, os ajustes directos e contratos municipais. Por fim, mas não menos importante, o Jantar de Natal. São 350 convidados. O valor a pagar 10 150€ mais IVA! Já houve o jantar do empresário, no dia do concelho, agora jantar para o funcionário camarário. E para celebração do fim do ano um concerto. Música para os ouvidos e muito vinho e cerveja. Custo? Não consta do portal! Sintomático. É escusado perguntar dado que o executivo não responde! Dados pessoais, dizem! De quem? Pois, não se sabe. E ainda referência à corrida de S, Silvestre e aos já realizados “challenge dos passadiços” com prémios em dinheiro e ofertas de medalhas, e os habituais equipamentos desportivos. A S. Silvestre será a primeira corrida com esse nome a realizar na Guarda. Mais uma imitação! E logo com o anúncio da distribuição de dinheiro aos atletas, mais uma, medalhas, fatos de treino, sapatilhas e tudo mais! Lembrar que contrariamente à data normal da realização da corrida, dia 31 de dezembro, aqui pela Guarda tem lugar no dia 15. Percebe-se a razão. Como pelo país há imensas corridas do género e com prémios bem avultados e aliciantes, os profissionais do desporto querem amealhar o quanto mais, melhor. Importava lembrar aos tais profissionais da arrecadação de dinheiro que o mesmo não pertence a nenhum Triboulet. É pertença dos impostos dos cidadãos que deviam ser utilizados na melhoria da sua vida e não para gáudio de uns poucos. Por fim, a melhor das piores as janelas, ruas e bairros floridos! Já pensou na celebração? Há prémios em dinheiro. Mas os valores não são anunciados nem no caso das corridas, nem das ornamentações florais. É que o fisco não perdoa e teriam que pagar pelos prémios. Mais uma falsificação a prejudicar os mesmos de sempre. Por fim, ficam os meus sinceros votos de felizes festas para todos, dentro do que for possível.
Até para o ano!