Alexandre O' Neill nasceu há 100 anos, a 19 de dezembro de 1924, em Lisboa.
Alexandre O’Neill foi um dos mais importantes poetas do Movimento Surrealista Português e um dos fundadores desse movimento com Mário Cesariny, José-Augusto França, António Pedro, entre outros. Pelas suas afrontas à ditadura de Salazar, foi preso pela Pide, a polícia política do regime, permanecendo detido por mais de 20 dias.
A sua estreia na literatura ocorreu em 1948, com o livro de poemas A Ampola Miraculosa, que inaugura os “Cadernos Surrealistas”. Vieram em seguida os seguintes títulos: Tempo de Fantasmas (1951), No Reino da Dinamarca (1958), Abandono Vigiado (1960), Poemas com Endereço (1962), Feira Cabisbaixa (1965), De Ombro na Ombreira (1969), Entre a Cortina e a Vidraça (1972), A Saca de Orelhas (1979), As Horas Já de Número Vestidas (1981), Dezanove Poemas (1983) e O Princípio de Utopia, O Princípio de Realidade, seguidos de Ana Brites, Balada Tão ao Gosto Popular Português & Vários Outros Poemas (1986).
Em 2012, a editora Assírio & Alvim lançou a 6.ª edição das suas Poesias Completas.
Publicou ainda dois livros de crónicas, fez traduções e organizou antologias.
Comemore-se com honra e respeito o centenário de Alexandre O’Neill.
Saiba-se respeitar a memória dos que "pelos seus actos e feitos da lei da morte se libertaram"!
Perfilados de medo
Perfilados de medo, agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
e a vida sem viver é mais segura.
Aventureiros já sem aventura
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que não fomos, do que não seremos.
Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido
os loucos, os fantasmas somos nós.
Rebanho pelo medo perseguido
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido.
ALEXANDRE O’NEILL
Poemas com endereço (1962)