quarta-feira, maio 01, 2024

Ponto de vista

A semana ficou marcada com a grandiosa manifestação da comemoração dos 50 anos do 25 de Abril realizada em Lisboa, com milhares de portugueses na rua.

Agora, eis-nos na semana de celebrar o Dia do Trabalhador.

Repito o Dia do Trabalhador!

O 1.º de Maio celebra não só as conquistas no campo dos direitos dos trabalhadores, mas pretende também sensibilizar para a falta de condições de trabalho que ainda se verificam por todo o mundo. É, por isso, um dia de reflexão para todos os que defendem uma sociedade mais justa e solidária.

É conhecida a razão de se comemorar no 1.º de Maio o dia do Trabalhador. A luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho e melhoria das remunerações, foi sendo feita com sangue, suor e lágrimas e deram origem à celebração desta data.

Este dia tem origem na histórica greve geral de Chicago, ocorrida a 1 de Maio de 1886, na qual foram reivindicadas melhores condições de trabalho e salariais.

Em Portugal, os trabalhadores assinalaram o 1.º de Maio logo em 1890, o primeiro ano da sua realização internacional. Até que, em 1919, após algumas das mais gloriosas lutas do sindicalismo e dos trabalhadores portugueses, foi conquistada e consagrada na lei a jornada de oito horas para os trabalhadores do comércio e da indústria.

Mesmo durante as ditaduras salazarista e marcelista, os portugueses souberam tornear os obstáculos do regime à expressão das liberdades. As greves e as manifestações realizadas em 1962 são provavelmente as mais relevantes e carregadas de simbolismo. Nesse período, apesar das proibições e da repressão, houve manifestações dos pescadores, dos corticeiros, dos telefonistas, dos bancários, dos trabalhadores da Carris e da CUF e as revoltas dos assalariados agrícolas dos campos do Alentejo. Mais de 200 mil operários agrícolas, que até então trabalhavam de sol a sol, participaram nas greves realizadas e impuseram aos agrários e ao governo de Salazar a jornada de oito horas de trabalho diário. Claro que o 1.º de Maio mais extraordinário realizado até hoje, em Portugal, com direito a destaque certo na história, foi o que se realizou oito dias depois do 25 de Abril de 1974.

A História da luta de classes entre a burguesia e a classe operária não deve ser esquecida.

Mas importa olhar para o futuro.

E que futuro está reservado aos trabalhadores? O trabalho e a consciência são indissociáveis. Importa definir um sistema educativo que forme cidadãos críticos e dotados da capacidade de actuar na vida laboral.

Sem que muitos cidadãos se deem conta, estamos a iniciar uma nova revolução industrial. A 4.ª revolução industrial. Com consequências devastadoras no mundo do trabalho. Estima-se uma perda considerável de muitos empregos. Cerca de 87% dos empregos estão ameaçados em todo o mundo. Uma brutalidade sem precedentes nas revoluções anteriores.

Qual o papel das novas tecnologias na melhoria das condições de vida dos trabalhadores? Qual o papel da Inteligência artificial? Conhece-se o papel das novas tecnologias na cada vez maior preponderância do teletrabalho com benefícios para os empregadores. Desde logo a dispersão dos trabalhadores sem a capacidade de se reunirem e em conjunto lutarem pelos seus direitos. Perde o sindicalismo, mas perdem principalmente os trabalhadores. Com o teletrabalho não há horários a cumprir. Os trabalhadores estão sempre ao serviço. E sem falar do cada vez maior controlo e exploração exercidos sobre os trabalhadores. Hoje quase não há pausas para nada, nem para ir à casa de banho. Aos trabalhadores é proibido conversar com os colegas. As tecnologias vieram para aumentar a produtividade, a competitividade das empresas, mas também para reduzir custos.

De acordo com Virginia Dignum, membro do Conselho Consultivo da ONU para a Inteligência Artificial é urgente encontrar formas da regular. Segundo a especialista, a Inteligência Artificial assemelha-se a um carro sem travões e sem cintos de segurança conduzido por alguém sem carta de condução. Se nada fizermos os benefícios vão ser para as grandes empresas tecnológicas e os multimilionários deste mundo.

Não haverá lugar para o trabalhador assalariado e aumentará o número de trabalhadores autónomos. Sem direitos e com múltiplos deveres desde logo o de receberem à peça. O trabalho temporário será o que vai predominar com lucros não declarados dos empregadores. Aumentam os estagiários. Mão de obra escrava que desempenha funções sem qualquer retribuição financeira, mas avaliado pelo desempenho. E por fim ao cada vez mais usual trabalho informal sem quaisquer regalias e obrigações contratuais. Leis do trabalho que não respeitam o direito a ter tempo para a cultura e o lazer e muito menos para a família.

Nós somos o que fazemos, mas como lembrou Eduardo Galeano o que fazemos para mudar o que somos?

Neste 1.º de maio de 2024 cabe-nos alertar as gerações futuras para o que a 4.ª Revolução Industrial vai trazer, mas cabe-lhes saberem honrar as conquistas e os direitos alcançados pelos seus antecessores.

Tenham uma excelente semana.