sexta-feira, maio 24, 2024

Ponto de vista

 A cada dia que passa a grande maioria dos portugueses vai sentido que o seu poder de compra vai a diminuir, apesar dos anúncios mentirosos de certa classe bem instalada na vida. A perda da própria habitação com a subida galopante dos juros dos empréstimos e o recurso cada vez mais acentuado ao crédito faz com que a grande maioria dos portugueses vegete e já esteja na pobreza.
Só não vê quem ou é cego, ou bajula os poderes, todos eles, por forma a continuar a receber avenças bem suculentas.
Esta semana ficou-se a saber que o sistema bancário, com base nos aumentos desmesurados impostos por um todo-poderoso Banco Central Europeu, ganhou nos primeiros três meses deste ano, qualquer coisa como 560 mil euros por hora, repito 560 mil euros por hora, ou seja, um aumento de mais de 305 milhões euros em valores absolutos, face a período homólogo do ano anterior.
Uma barbaridade!
Salientar que o Banco dito do Estado, a Caixa Geral de Depósitos, liderou os ganhos, ao atingir um resultado líquido consolidado de 394 milhões de euros, que supera em 38% os 285 milhões registados no igual conjunto de meses do ano anterior.
E quem paga este brutal aumento? A maioria dos portugueses que caem nas malhas do sistema bancário, alicerçadas num Banco Central Europeu que é tão solícito a socorrer a banca quando esta entra em derrapagem e é penalizadora dos cidadãos em geral quando faz aumentar os juros, sempre, mas sempre, em benefício do sistema.
Desde que o Banco Central Europeu começou a subir as taxas de juro diretoras em meados de 2022, para combater a inflação, que isso tem tido impacto no aumento dos créditos dos clientes bancários indexados a taxa de juro variável, sobretudo a Euribor.
Tal tem apoiado os lucros dos bancos que, desde então, viram a sua margem financeira sair beneficiada pelas altas taxas de juro nos empréstimos e a lenta subida das taxas de juro nos depósitos. Lembrar que cerca de 80% do aumento acumulado das taxas de juro do Banco Central Europeu em 2022 e 2023 foi eficazmente reflectido pelos bancos nas taxas de juro aplicadas às famílias portuguesas nos contratos de crédito à habitação, tendo assim Portugal um dos rácios de “transmissão monetária” mais elevados num grupo de 26 países, como revela um estudo do insuspeito Fundo Monetário Internacional inserido no relatório Perspetivas Económicas Mundiais, divulgado esta semana.
O caso português é mais grave uma vez que, como o mostra o FMI, um terço das famílias tem um contrato hipotecário activo, ainda em pagamento ao banco, estando estas muito vulneráveis a subidas de taxas de juro devido à prevalência esmagadora de contratos indexados a taxas variáveis. Portugal, com um rácio de 70% dos aumentos decretados pelo Banco Central Europeu, vê as famílias portuguesas a arcarem com a maior fatura, em termos comparativos com todos os outros países do Euro.
Esta é uma das principais causas para a alta fragilidade das famílias portuguesas face ao ambiente de taxas de juro muito elevadas e que, sem certezas, só devem começar a aliviar em Junho e de forma muito ligeira, segundo dá a entender o todo-poderoso Banco Central Europeu.
Ou seja, a vida continuará muito difícil para todos os que têm empréstimos para com o sistema bancário. Referir que o sistema usa e abusa de todo o esquema para desembolsar o menos possível. Caso flagrante são os ridículos juros pagos aos depositantes e aforradores. Ou seja, a valorização da margem financeira - a diferença entre os juros cobrados nos créditos e os juros pagos nos depósitos -, aumentou mais 20% do que no ano anterior.
A juntar a este golpe de lucrar com a subida dos juros dos empréstimos ainda acresce o aumento de toda e qualquer comissão que o sistema cobra aos clientes.
Para rematar esta actividade penhorista de tudo sacarem ao pobre cidadão, ainda reduzem ao mínimo os serviços encerrando dependências e despedindo trabalhadores. Desiludam-se os que acreditam em conversas da treta que anunciam alívios das prestações, quaisquer que elas sejam, pois o sistema bancário continuará a sua senda de assaltar os portugueses.
A somar a esta abusiva situação dos empréstimos à habitação há ainda a juntar o aumento do crédito ao consumo que as famílias estão a recorrer como solução para despesas dos orçamentos familiares a que não conseguem responder com os salários, devido ao agravar do custo de vida. A taxa de esforço média dos novos créditos aos particulares - que agrega empréstimos ao consumo e à habitação - voltou a aumentar no ano passado. O que prova que o tão propagandeado aumento dos rendimentos dos portugueses é uma falácia e engorda os mesmos de sempre. Lembrar que a usura é crime, mas cada vez mais é legitimada pelos poderes! 
Tenham uma excelente semana!