Comemorou-se no passado dia 9 de Maio o Dia da Europa. Foi em 1950, cinco anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, que a França, Alemanha, Itália, Países Baixos, Bélgica e o Luxemburgo juntaram-se para formar a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço.
As propostas desses países foram a génese da União Europeia. A sua constituição teve e tem muito pouco de coesão europeia e ainda menos de desenvolvimento harmonioso da mesma.
A União Europeia cresceu à boleia da sua expansão e da adesão de novos Estados-membros, até perfazer os atuais 27. Mas os dados publicados no documento do Eurostat Números Chave na Europa, correspondentes à edição de 2023, a mais recente, revelam que quase 73 milhões de pessoas estão em risco de viver na pobreza.
Também realçam as disparidades em termos remuneratórios entre homens e mulheres. O tão propagandeado mercado livre, circulação de bens e pessoas e a criação do Euro como moeda única alterou muito pouco as disparidades entre países e dentro dos países entre os cidadãos.
Portugal juntou-se ao “clube” em 1986, a par com a Espanha. Se as promessas de desenvolvimento do país foram na maioria cumpridas com a criação de infraestruturas desde o saneamento básico até à melhoria dos acessos muitos dos ditos fundos estruturais deram aso a uma corrupção sem limites que continuam a colocar-nos nos piores lugares do desenvolvimento ultrapassados ano após ano por novos membros.
Se em termos económicos, em 2022, a União Europeia representava cerca de 14% do comércio mundial de mercadorias, o equivalente a 2,1 mil milhões de euros do comércio mundial total, as discrepâncias entre os seus membros são assustadoras. O salário mínimo na União Europeia varia atualmente entre os 477 euros por mês na Bulgária e os 2 571 euros por mês no Luxemburgo. Portugal desceu uma posição nesta listagem, ocupando agora a 11.ª posição, tendo sido ultrapassado pela Polónia. Os salários da Alemanha, Luxemburgo, Países Baixos, Bélgica, Irlanda, Polónia, Eslovénia e Espanha são os que têm o maior poder de compra na União Europeia.
O desemprego é outro indicador preocupante.
Já sobre o esforço ambiental pouco foi conseguido e com muitos recuos face às imposições do poderio económico de certos países.
A redução das emissões dos gases de efeito estufa e a aposta nas energias renováveis é ainda uma miragem e nalguns casos verifica-se um retrocesso.
No que concerne às políticas da União Europeia face aos graves conflitos militares em curso no continente europeu e às alianças com outros países fora do continente, continua-se a verificar que o eixo França/Alemanha domina a seu belo prazer todas as tomadas de posição.
Assiste-se a uma imposição ditatorial da comissão europeia que impõe regras de funcionamento aos países membros, nomeadamente no que diz respeito às políticas orçamentais.
E a emigração que transforma o Mediterrâneo no cemitério de milhares de cidadãos que procuram fugir da guerra e da fome. Uma tragédia humana.
Para celebrar este Dia da Europa, mas igualmente para influenciar a ida dos portugueses às urnas nas próximas eleições europeias, foi dado a conhecer um inquérito realizado a uma minoria dos portugueses.
Desde logo há que diferenciar o que é um inquérito de um estudo científico.
Chamar a este barómetro um estudo científico é insultar a inteligência dos portugueses. O inquérito foi realizado a 1 107 cidadãos portugueses, o que revela o fraco interesse científico. É uma amostra pouco ou nada significativa e sem rigor científico. Procurar-se de uma amostra deste tipo inferir qualquer conclusão é abusivo e sem qualquer rigor.
Como se pode inferir de tal amostra da forma como os portugueses veem as instituições europeias?
Descobrir o que os portugueses sabem e o que sentem relativamente à União Europeia?
Dizer-se que os portugueses confiam mais nas instituições europeias do que nas nacionais é mais areia para os olhos dos portugueses e procura-se esconder o muito de corrupto que circula nos corredores de Bruxelas.
Saliente-se que os inquiridos se sentem insatisfeitos como a União Europeia tem lidado com alguns dos desafios da atualidade, como a pobreza, as desigualdades ou o conflito Israel-palestiniano.
O inquérito só confirma o óbvio, como não podia deixar de ser.
Tenham uma excelente semana!