Tenho lido certa canalha, armada ao pingarelho, a falar de coisas que cientificamente não estão provadas. Desde um Gomes Ferreira a falar e a escrever sobre os descobrimentos, passando por um José Rodrigues dos Santos a falar das origens do Colombo tudo se publica neste Portugal.
Só revela a pouca ou nenhuma cultura de milhões de portugueses.
Por um acaso, mas só por acaso, lembrei-me de Mestre Aquilino Ribeiro e da sua obra, muito provavelmente a mais relevante, se tal se pode dizer de tantas e magníficas obras do Mestre. Falo de "A Casa Grande de Romarigães".
Não, não vos vou falar da obra.
Cada um se achar por bem que leia e aprecie essa magistral obra literária.Vou apenas, socorrer-me de uma passagem da obra e dela podem retirar a qualidade literária da mesma.
"Um confrade, académico de Argamasilha ou lente de Coimbra, já não sei bem, a quem li alguns capítulos deste livro, exclamou, mais que judicioso, salomónico de todo: – Mas afinal o que V. fez foi um romance... – Um romance...? Deus me livre! A minha ambição foi bem outra. Isto é monografia, história local, história romanceada, se quiser, agora novela, abrenúncio! Mal de mim se escorreguei para tais enredos e labirintos. No romance, o escritor escolhe os episódios; na história, são os episódios que se lhe vêm oferecer. Estão tabelados, não há que lhes fugir. Ora o que eu tentei foi desempoeirar velhos e particularíssimos sucessos que, de resto, pouco pesaram na marcha do mundo. Romance...!? Se me saiu romance, aconteceu-me a mesma coisa que a um triste e tosco carpinteiro dos meus sítios, de quem toda a gente zombava, decerto por milagre desenfadado do Espírito Santo: estava a fazer um gamelo para o cão e saiu-lhe uma viola.”
Somos tão pequenos ao pé do que acabamos de ler, escrito pelo Mestre Aquilino.
Tão pequenos!