quarta-feira, outubro 18, 2023

Lembrei-me de Raúl Brandão in "A Farsa".

"O gordo, do lado da porta, todo sebo, que cabeceia e dormita, é o Belisário escrivão finura e crápula, vestidas de negro. Resfolga. Enriqueceu à custa de penhoras e desgraças. Há almas assim, sempre ocupadas por esta mira o oiro. Todo ele por dentro é papelada e ronha. Está tão habituado a processos, que, mesmo sem necessidade, cisma em tranquibérnias. Apertar alguém, esmagá-lo, reduzi-lo pouco e pouco à última angústia, à pior extremidade, é para ele um gozo estranho. Sente uma enorme satisfação em perder os que caem nas unhas, em os levar por complicadas fórmulas até à máxima pobreza, metido na sombra, rabiscando papel selado, e vendo, minuto a minuto, o seu sonho tornar-se realidade.".
Lembrei-me. E depois, por um acaso, mas só por um acaso, lembrei-me de certos políticos da Guarda. Curioso, o percurso é em tudo, mas em tudo igual.
Que coisas interessantes se descobrem nesta vida bela de uns quantos parasitas.