As minhas recentes caminhadas no Estádio Universitário, na
companhia de um amigo, fizeram-me esbarrar nas já muito discutidas praxes, nos
caloiros áulicos e “senhores” veteranos, quais servos bajuladores perante os
seus todo- -poderosos. E, confesso, é algo que me perturba, que não é capaz de
me deixar indiferente desde os meus tempos de faculdade. Sou objetivamente
(sempre fui) contra as ditas, porque considero fundamental para o nosso
crescimento no início desse percurso académico que existam formas de integração
criativas, brincadeiras construtivas e desafiantes e métodos para estimular a
união e o companheirismo, e não o contrário.
Neste momento, aquilo que os estudantes (alguns) fazem é
construir aquilo que não conseguiram através da sua capacidade intelectual:
assumir a liderança e serem reconhecidos como mentores e exemplos a seguir.
Então assumem o papel, pela primeira vez na vida, usando a força, a humilhação
e a defesa de princípios errados que vão passando de geração em geração e nos
vão moldando negativamente também. Figurinhas bisonhas e tristes do nosso
firmamento, na senda do miserabilismo nacional.
E é vê-los ali, altivos e prepotentes dentro da sua nova pele,
uma capa e batina que, aliás, sempre me recusei a usar, fazendo figuras
ridículas e usando as suas múltiplas matrículas sempre a chumbar para se
sentirem verdadeiramente importantes quando o mundo lá fora não lhes dá crédito
absolutamente nenhum. Mas não deveriam os alunos estimular os melhores? Não só
os que têm melhores notas, mas os mais solidários, os simpáticos, os criativos
e os especialistas em alguma coisa? Estamos nós a privilegiar quem chumba? Os
parasitas e idiotas que vivem à conta da educação do país e dos que trabalham,
nomeadamente os seus pais?
Sou a favor da meritocracia. Sempre fui, aliás. Acho que todos
devem ter acesso às mesmas oportunidades e, depois, defendo que os melhores
devem ser, de facto, reconhecidos e elogiados. Tenho para mim (se calhar é
defeito meu) que ao invés de querermos acabar com a riqueza nos devíamos focar
em acabar com a pobreza. Esse princípio de querermos ser melhores, líderes e
populares, essa vontade que temos de preencher o ego constantemente tem de ser
acompanhada por uma filosofia de vida que nos permita chegar lá pelas razões
certas e sermos reconhecidos por sermos os melhores, e não os piores.
Nunca fui praxado e nunca praxei. Nunca toquei cavaquinho na
tuna nem dei mortais com guizos na mão. Percebo perfeitamente esse chamado
espírito académico, mas o meu sempre foi preenchido de outras formas. Não
deixei de o viver, simplesmente dava importância a outras atividades. Cada um é
livre de tomar as suas opções. Acho, no entanto, que chamar nomes estúpidos aos
que se iniciam, pintar uma pessoa, obrigá-la a fazer vários exercícios como
levantar pedras ou mandar pedras a outros, ver miúdas a chorar com receio, isto
não é integração - e se é para isso, que se acabe rapidamente. Na maioria dos
países desenvolvidos, a Semana do Caloiro é uma receção de boas-vindas com
jogos, festas temáticas, concursos, leituras de poesia, grupos de teatro e
desporto. Por cá, continuamos a desrespeitar física e intelectualmente os
alunos.
As diferenças começam aqui...