terça-feira, dezembro 22, 2015

Ponto de vista

A crise financeira, e refiro-me à crise financeira portuguesa, parece estar aí para durar. Depois dos rombos de dimensões galácticas verificados no BPN e BPP dos amigos do nosso ainda presidente, e, mais recentemente, no BES do amigo do candidato a futuro presidente, a história repete-se…
Desta vez é o BANIF a colocar-nos a todos na linha de fogo. O banco do João Jardim e seus muchachos. O banco do regime do caciquismo atlântico, aquele regime que prenunciou na ilha, pelo ridículo populista e pela trafulhice, com anos de avanço, o chavismo que viria a emergir mais tarde num continente que por coincidência acolheu tantos madeirenses.
Convém recordar que o governo PSD/CDS injetou cerca de 1100 milhões de euros no BANIF no final de 2012. Desses 1 100 milhões, 275 milhões já foram liquidados, mas 125 milhões já deveriam ter sido pagos até dezembro de 2014 e não foram, tal como 700 milhões deveriam ser devolvidos até 2017 e não serão. Ou seja, assim de cabeça, já está criado mais um buracão superior a 800 milhões de euros…
Esta chocante realidade contrasta com o discurso pafioso que falava em cofres cheios, redução do desemprego, saída da crise, e parvoíces do género. Pior, é um arraso naquele discurso da altura, de que o Estado até ganharia fortunas com essas injeções de capital, a cavalo nos juros que iria receber.
Portugal está condenado a viver numa espécie de regime bipolar ou, pior do que isso, esquizoide. De um lado, ao mais pequeno sinal de incumprimento, arrestam-se bens do cidadão comum, incluindo a casa onde vive. Do outro, as dívidas e buracadas recorrentemente originadas por banqueiros e criminosos de colarinho branco são cobradas ao contribuinte como se por ele tivessem sido contratadas.
O problema é que não Portugal que está doente. São os políticos que o têm governado e, sobretudo, o povo que os tem elegido, que precisavam de tratamento. Ou, na ineficácia deste, de internamento. Compulsivo!
Esta história de ter de ser o português comum a pagar sistematicamente as dívidas de banqueiros e vigaristas faz-me lembrar o famoso peditório a favor da mulher do soldado desconhecido que após a 2.ª guerra mundial teve lugar neste jardim à beira mar plantado.
Da mesma forma que eu nunca poria as mãos no fogo por um peditório desses, o descrédito do BANIF é de tal ordem que a semana que findou acabou com um euro a valer 1 111 ações do banco! Perceberam bem? Com o dinheiro de um café no bar de qualquer hotel de 3 estrelas, os tugas já podem dizer ao tio que têm na América ou no Burundi que são milionários! Pelo menos em ações. Não sei se era bem esta a ideia daqueles que propagandeavam o capitalismo para todos, mas nos dias que correm as únicas coisas que nos caem em cima aos milhares são realmente ações do BANIF ou desgraças do quotidiano. Umas são baratas, outras nem por isso.
Dizem-nos agora que há um plano de reestruturação do BANIF assente num processo de venda do Banco nos mercados internacionais. Esse plano é conduzido pelo seu próprio Conselho de Administração, coisa parecida com a ideia de um Al Capone a devolver o dinheiro sacado na venda de whisky.
A alternativa passa por ser o governo a segurar o menino nos braços e a mudar-lhe a fralda de hora a hora. Seria uma solução assim do tipo BES, com um banco bom e outro mau. Só que, peço que se lembrem, o Novo Banco - o chamado banco “bom” - continua a ser um grande problema. Detém 17% do mercado bancário português e soube-se agora que as necessidades de capital podem ultrapassar os 2.000 milhões de euros! A somar à incerteza que os inúmeros litígios judiciais já em curso nos reservam. E a outros bancos que se encontram na calha da desgraça

Só há uma coisa que ainda me consola tanto como um penso colocado sobre uma perna amputada. O nosso ainda presidente não veio a terreiro garantir que o BANIF está sólido e recomenda-se. No dia em que o fizer, aí sim, é porque então se abriram as portas do inferno! 
Tenham umas boas festas!