O
Hospital Sousa Martins, o nosso hospital, volta de novo a ser notícia. E mais
uma vez pelas piores razões. O conselho de administração ainda em funções, numa
atitude que suscita as maiores reservas, voltou a reenviar para o Tribunal de
Contas o processo da empreitada do novo edifício do hospital. Tanto quanto
sabemos, o novo processo foi preparado com o apoio da própria ARS do Centro, a
mesma entidade que, na senda da inauguração desse pavilhão, ainda há dias culpava
o corpo clínico do hospital da Guarda pelos atrasos no entendimento para a
constituição de uma unidade de saúde da Beira Interior, com inclusão da Covilhã
e de Castelo Branco.
Do
processo agora reenviado ao Tribunal de Contas constarão acordos relativos a
«trabalhos a mais e trabalhos a menos», acordos relativos a erros e omissões de
arquitectura e acordos relativos à reposição do equilíbrio financeiro da obra.
Segundo
a administração da ULS, com estes documentos procura dar-se aos juízes do Tribunal
de Contas os elementos que possibilitarão a emissão do respetivo visto. Mas
afinal o que pretende verdadeiramente uma administração condenada a fazer as
malas e a debandar pela porta pequena?
Convém
recordar que já não é a primeira vez que uma administração da ULS se envolve em
polêmicas relacionadas com as obras do novo pavilhão do hospital. Não foi por
acaso que ano passado o Inspecção-Geral das Actividades em Saúde iniciou uma
investigação à empreitada dessas mesmas obras. O caso levou a que o então
inspector-geral da saúde afirmasse que teriam sido identificadas novas áreas de
risco em termos de fraudes, envolvendo nomeadamente obras e equipamentos não
utilizados.
Ainda
o ano passado, durante uma visita ao hospital da Guarda, até o então ministro da
Saúde, Paulo Macedo, estranhou de forma espontânea alguns problemas
relacionados com as portas corta-fogo – essenciais para as autorizações da
Autoridade Nacional de Proteção Civil, tal a forma como o nível de
incumprimento ou de imperfeição do projeto é acessível ao leigo.
Mas,
se tudo isto são questões de pormenor que evidentemente deveriam ter sido
acauteladas no projecto inicial e na fiscalização que se lhe seguiu em fase de
obra, pior, bem pior, estará o assunto do pedido de indemnização do consórcio Hager/Edifer,
o qual reclama do Estado cerca de 8 milhões de euros relativos à suspensão e
juros da primeira fase de requalificação da unidade, assim como dos custos
acrescidos que as empresas alegam ter tido por culpa das decisões da administração
da ULS desde o tempo em que foi liderada por Ana Manso. Quero ver o que
acontece se a Hager/Edifer ganha o processo… Por sua vez a ULS contra-ataca e reclama
incumprimentos do contrato…
Ora,
é neste jogo do gato e do rato que se vai saber afinal qual a opinião do
Tribunal de Contas. Entretanto fica cada vez mais a ideia de que o reenvio do
processo a essa instituição se destina apenas ou sobretudo a comprar tempo.
Tempo! Aquilo de que a administração que tem o patrocínio de Álvaro Amaro
necessita para empurrar este e outros graves problemas para a próxima administração,
a nomear pelo novo governo do PS.
De
facto, existem rumores de que a ULS estará embrulhada noutros problemas muito
sérios relacionados com condenações judiciais no valor de muitas centenas de
milhar de euros, que nenhuma das administrações do tempo do PSD conseguiu
resolver, como se impunha, em tempo oportuno.
Assim,
para Álvaro Amaro, patrono da atual administração, e para a sua estratégia de
conquista de mais um mandato à frente da autarquia, é vital que as broncas que
estão para rebentar envolvendo a ULS, estoirem no campo do adversário e não no
seu. E para isso a lentidão do Tribunal de Contas é um aliado mais confiável do
que um cão para o pastor.
Convém
não esquecer que estamos a falar de gente para quem a palavra “escrúpulos” não
tem o mesmo significado que para os eleitores. A ULS volta assim a ser, mais
uma vez, a arma de arremesso mais à mão. É caso para perguntar, “onde é que eu
já vi este filme”?
Uma boa semana para todos.
(Crónica na Rádio F - 30 de Novembro 2015)