O
hospital da Guarda tem sido daquelas instituições em que as coisas parecem
correr sempre mal. Desde as frequentes e patéticas perseguições a médicos, às
duradouras dúvidas sobre a permanência do serviço de maternidade na nossa
cidade, tudo tem servido para fabricar notícias.
Ele
foram os gastos exorbitantes por parte de certas administrações, a discussão em
torno de um hospital novo ou de um novo hospital, a nomeação do marido de uma
presidente da administração em condições no mínimo ridículas, as condenações
criminais de mais do que um presidente, a imparável degradação e esvaziamento de
serviços de que é caso emblemático a Cirurgia, o desaparecimento misterioso da
ampola de hélio do aparelho de ressonância magnética, as obras do novo pavilhão
com acusações de gastos a mais e a menos, enfim, um interminável rol de
horrores e de azares a fazer crer que a nossa cidade é realmente vítima de uma qualquer
maldição que ninguém consegue explicar.
Agora
saiu-nos na rifa o serviço de pneumologia. Conseguiram que deixasse de
funcionar o único e velhinho aparelho de broncofibroscopia! Só para que se
entenda a gravidade da situação, trata-se de um equipamento que permite, por
exemplo, proceder à recolha direta de tecido para alcançar o diagnóstico
correto de tumores. É um pouco como se tivesse deixado de funcionar o último
avião de uma companhia aérea…
Nem
pergunto como foi possível chegar-se a esta situação. Não vale a pena!
Recordo-me de há muitos anos um médico se ter sentido compelido a comprar, do
próprio bolso, dezenas de milhares de euros de equipamentos para o seu serviço
não fechar. Isso dá bem uma ideia do que vai naquela casa e dos limites a que
por vezes se chega.
O
hospital da Guarda tem sido o campo de manobra dos interesses partidários
locais. Tratando-se da maior empresa do distrito, ainda por cima pública,
percebe-se o apetite para o nepotismo que por ali grassa, enrolado num esquema
de favores e de obscuras negociatas. O hospital tem sido a mãe de todos os
desenrascanços para qualquer político aflito. O resto pouco interessa, desde
que não estoire na comunicação social.
Uma
vez que já percebemos como se chega a este tipo de situações, a dúvida que fica
é se isto algum dia terá fim. “Já não há indignação espontânea, que é a boa, a
verdadeira indignação. Existe uma doença do espírito: o mal da indiferença
cívica. Todos estamos moralmente doentes”. Esta última frase não é minha. É de
José Saramago.
Por
isso, ou acabamos com certo tipo de gente, ou então quem um dia acaba mesmo é o
nosso hospital... E sem nós quase darmos por isso. Olé!
(Crónica no jornal O Interior - 10 de dezembro 2015)