quinta-feira, dezembro 03, 2015

Memórias


Em 1969 Cristiaan Barnard dava uma conferência no Teatro Académico de Gil Vicente em Coimbra. Uma imensa multidão esperava o cirurgião à porta do teatro onde não havia lugar para mais ninguém, cheio que nem um ovo.
Era, assim o entendi na altura, uma forma da academia mostrar solidariedade com um passo gigantesco no desenvolvimento da ciência. Uma academia que se revia na inovação e que era contra o imobilismo reinante na Universidade desse tempo.
Não, não era apenas e tão só contestação que seria natural na juventude.
Era bem mais que isso!
Uma forma de querer uma MUDANÇA na forma de ser, estar e fazer no ensino universitário.
Memórias de outro tempo!
Como disse um dia o poeta:
«Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
 
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E afora este mudar-se cada dia,

Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.» 

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"