Em
1969 Cristiaan Barnard dava uma conferência no Teatro Académico de Gil Vicente
em Coimbra. Uma imensa multidão esperava o cirurgião à porta do teatro onde não
havia lugar para mais ninguém, cheio que nem um ovo.
Era,
assim o entendi na altura, uma forma da academia mostrar solidariedade com um
passo gigantesco no desenvolvimento da ciência. Uma academia que se revia na
inovação e que era contra o imobilismo reinante na Universidade desse tempo.
Não,
não era apenas e tão só contestação que seria natural na juventude.
Era
bem mais que isso!
Uma
forma de querer uma MUDANÇA na forma de ser, estar e fazer no ensino
universitário.
Memórias
de outro tempo!
Como
disse um dia o poeta:
«Mudam-se
os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se
o ser, muda-se a confiança:
Todo
o mundo é composto de mudança,
Tomando
sempre novas qualidades.
Continuamente
vemos novidades,
Diferentes
em tudo da esperança:
Do
mal ficam as mágoas na lembrança,
E
do bem (se algum houve) as saudades.
O
tempo cobre o chão de verde manto,
Que
já coberto foi de neve fria,
E
em mim converte em choro o doce canto.
E
afora este mudar-se cada dia,
Outra
mudança faz de mor espanto,
Que
não se muda já como soía.»
Luís
Vaz de Camões, in "Sonetos"