quarta-feira, abril 29, 2015

O Cinismo dos Valores

Cada vez mais desesperado. 
Olho, olho, e só vejo negrura à minha volta. 
Fé? Evidentemente... 
Enquanto há vida, há esperança — lá diz o outro. 
Mas, francamente: fé em quê? 
Num mundo que almoça valores, janta valores, ceia valores, e os degrada cinicamente, sem qualquer estremecimento da consciência? 
Peçam-me tudo, menos que tape os olhos. 
Bem basta quando a terra mos cobrir! 
— Ah! mas a humanidade acaba por encontrar o seu verdadeiro caminho — dizem-me duas células ingénuas do entendimento. 
E eu respondo-lhes assim: Não, o homem não tem caminhos ideais e caminhos de ocasião. 
O homem tem os caminhos que anda. 
Ora este senhor, aqui há tempos, passou três séculos a correr atrás dum mito que se resumia em queimar, expulsar e perseguir uns outros homens, cujo pecado era este: saber filosofia, medicina, física, astronomia, religião, comércio — coisas que já nessa época eram dignas e respeitáveis.

Miguel Torga, in "Diário (1942)" 

A propósito, Cavaco condecorou instituições e personalidades que, na opinião do dito contribuiram para a solidariedade social.
Cavaco igual a si próprio!
Primeiro pontapeou a língua portuguesa, agora não com os «cidadões» mas com um sujeito em falta de concordância com a forma verbal.
IGUAL A SI PRÓPRIO!
PAROLO!
Depois por que ao condecorar as tais putativas figuras e figurantes, esqueceu-se de mencionar o dinheiro que cada uma recebe dos contribuintes portugueses, não para realizarem solidariedade mas antes a caridadezinha!
«As distinções sociais só podem fundar-se na utilidade comum» - Artigo 1.º Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, 1789.
Não entendes múmia!
A campanha eleitoral já começou!
Venham de lá esses votos dos lares, centros de dia, cuidados continuados que a mão caridosa nunca lhes vai faltar.
Ámen!