A cultura portuguesa tem um amor fatal pelo provincianismo.
O provincianismo é a forma mais «engagée» de existir socialmente e
literariamente.
Daí a impossibilidade, ou melhor, o medo de se realizar sequer
um realismo a sério, porquanto este exige uma descida ao inferno e não vejo por
aí quem se atreva além do purgatório.
Fica-se assim na meia tinta do
naturalismo, retratando quadros convencionais de uma sociedade provinciana
onde, além da já muito conhecida injustiça social (reparável pela economia e
não pela literatura), nada se capta que possa sugerir a simples violência de se
estar no mundo.
Provincianismo chama-se ainda àquela nossa atitude que toma
muito a sério ou, ainda, solenemente, tudo o que faz, tornando inviável uma
literatura que desmonte eficazmente a engrenagem humana e social pela
incomplacente investida de um humor cruel. Houve recentes tentativas
queirozianas para denunciar as fraquezas do meio.
Conseguiu-se fazer realismo
desta vez?
Também não, porque se fez realismo de empréstimo, de segunda mão,
colhido no «diz-se diz-se» das esquinas.
Escreveu-se razoavelmente má-língua,
mas não se agitaram as pessoas e as instituições de forma a tornar visível o
lodo depositado no fundo. Isto quanto aos que fazem profissão de fé de realismo
social ou burguês.
Neste capítulo, não podemos competir com os mestres do
neo-realismo americano e europeu, que bons ou maus, para quem aprecia o género,
já disseram a última palavra.»
Natália Correia, in 'Entrevista (1983).
Natália Correia, in 'Entrevista (1983).
Como me delicio a ler este texto.
Aprende-se!!!
Será que custa assim tanto ser humilde e reconhecer que a aprendizagem também se faz?
PERCEBES, COCHINO???
PERCEBES, COCHINO???