Neste nosso País e, cada vez mais, o discurso político de uns quantos é nada. É um vazio de ideias, oco e, principalmente, sem conteúdo ou, nalguns casos aparenta ser aquilo que alguns dizem que é mas que na realidade e, esmiuçados os argumentos chega-se à conclusão que nada, mas mesmo nada foi dito ou pior foi tentado dizer. É um amontoado de meias palavras e de frases sem sentido, balofas e cheias de naftalina.
A máxima de que muda-se pouca coisa para que tudo continue exactamente na mesma, faz furor e escola neste nosso País.
De uma farsa eleitoral faz-se vitória e cantam-se hinos e aclamações ao chefe que lhes promete a terra do NUNCA.
Mas, se a terra do NUNCA é apenas uma miragem, um oráculo de um qualquer centro comercial, já a forma discursiva como se articulam os argumentos e contra argumentos são por si só reveladores da falta de competência de quem insiste em governar-nos.
Depois das euforias e festas dos dias loucos de comes e bebes, da bebedeira das promessas, a realidade aí está para que a vida nos obrigue a pensar, se é que ainda alguns tenham capacidade para o fazer.
A tristeza dos factos aí está a provar que os problemas do País não são invenções de uns, mas, consequências do péssimo governo que nos vão impondo.
Exemplos? Mais que muitos na devassa acelerada do imobilismo e da incompetência dos governantes.
Recentemente foi publicado um estudo, mais um, sobre os custos da Educação em Portugal. A sua autora, Luísa Cerdeira, professora e administradora da Universidade de Lisboa, fez um estudo comparativo sobre os custos dos estudantes portugueses no contexto internacional, no que se refere à capacidade de suportar as despesas face a outros países, com base no PIB per capita. O resultado foi o que TODOS os que têm filhos a estudar no ensino superior já conhecem muito bem: os custos com a Educação em Portugal, no ensino superior são dos mais elevados da Europa, representam 11 por cento do PIB per capita português. Só os ingleses pagam mais, se isso conforta o ego de algum carneiro ou burro português.
Já agora, e segundo o referido estudo, os portugueses são também os que menos apoios recebem face aos gastos do ensino.
O estudo revela que os gastos das famílias portuguesas com o Ensino Superior correspondem a 11% do PIB per capita nacional e quantifica o custo médio anual da frequência no ensino público em 5310 euros.
Ou seja, comparando com outras realidades na Europa, torna-se mais visível a disparidade no esforço financeiro dos portugueses que conseguem entrar nas universidades. PAGAMOS DEZ VEZES MAIS QUE NA FINLÂNDIA, QUASE O QUÁDRUPLO DO QUE GASTAM OS BELGAS, IRLANDESES E SUECOS, E O DOBRO DOS FRANCESES.
A situação torna-se ainda mais grave se entrarem nas contas o apoio social escolar para quem frequenta o Ensino Superior em Portugal. Os apoios não chegam a cobrir um quinto das despesas dos alunos, quer a nível do aluguer de quartos, comida, livros e outras despesas.
O estudo revela, igualmente, o triste panorama no que diz respeito ao apoio social por aluno. Verificando-se, de ano para ano, uma redução substancial desse apoio comparativamente ao aumento das propinas que já é, em quase todas as instituições, o valor máximo definido por lei. Apesar, das panaceias e aldrabices camufladas das prestações para pagamento das propinas serem, segundo os responsáveis, suavemente pagas em valores diferenciados para não sobrecarregar os parcos orçamentos dos alunos. TENHAM VERGONHA! Pagar hoje ou amanhã o máximo das propinas é PAGAR E MAIS NADA!! Se é hoje com um valor e daqui a uns meses com outro o somatório final é o mesmo. Querem chamar acéfalos a quem???
De tudo isto resultam duas consequências graves. A falta de qualidade do ensino associada à propaganda enganosa que se verifica na publicitação de cursos cujas estruturas curriculares não são cumpridas por, dizem, falta de verbas para contratar professores.
Por outro lado, cada vez mais, as famílias pobres não conseguem pagar as despesas da frequência universitária. Segundo o estudo que vimos referindo, mais de 90% dos alunos pertencem a agregados familiares com rendimentos médios e altos.
É que, para que conste e se pense na vergonhosa situação criada pela introdução das propinas, entre 1995 e 2005, o aumento das propinas foi de 452%.
Leram bem? Perceberam o que isso significa nos bolsos dos pais desses alunos.
A isto chama-se aldrabar.
Os que ontem justificaram as propinas como factor para melhorar o apoio social, MENTIRAM.
Mentem todos os que justificam a necessidade das propinas.
Qualidade de ensino? Qual qualidade? Só se for a dos call center ou das caixas dos supermercados.
Ontem, quando o ensino universitário era para os ricos, não havia propinas.
Hoje que o Ensino deveria ser livre e para TODOS pagam-se propinas.
A democracia dos proxenetas da vida boa, claro está!
Não a esta dupla tributação.
(Artigo publicado no jornal "O Interior", no dia 22 de Outubro de 2009)