quarta-feira, março 11, 2009
O caçador
Já não é só a quinta, das celebridades, que faz o senhor de Ribamondego (antiga Cabra), vir a Gouveia.
Também a caça o faz sair da toca do Mondego e vir, até terras da cidade jardim.
Só que vem para os «baptimos de caçadores».
O candidato a nada, e coisa nenhuma, gasta o seu tempo em rituais macabros e medievais em vez de se preocupar em resolver os problemas do município de Gouveia.
Coisas de baptismos de confrarias.
Quem paga tais devaneios populochos e bacocos?
Bem de ver quem, pois então!!!
Jaz el-rei entrevado e moribundo
Na fortaleza lôbrega e silente...
Corta a mudez sinistra o mar profundo...
Chora a rainha desgrenhadamente...
Papagaio real, diz-me, quem passa?
– É o príncipe Simão que vai à caça.
Os sinos dobram pelo rei finado...
Morte tremenda, pavoroso horror!...
Sai das almas atónitas um brado,
Um brado imenso d'amargura e dor...
Papagaio real, diz-me, quem passa?
– É o príncipe Simão que vai à caça.
Cospe o estrangeiro afrontas assassinas
Sobre o rosto da Pátria a agonizar...
Rugem nos corações fúrias leoninas,
Erguem-se as mãos crispadas para o ar!...
Papagaio real, diz-me, quem passa?
– É o príncipe Simão que vai à caça.
A Pátria é morta! a Liberdade é morta!
Noite negra sem astros, sem faróis!
Ri o estrangeiro odioso à nossa porta,
Guarda a Infâmia os sepulcros dos Heróis!
Papagaio real, diz-me, quem passa?
– É o príncipe Simão que vai à caça.
Tiros ao longe numa luta acesa!
Rola indomitamente a multidão...
Tocam clarins de guerra a Marselhesa...
Desaba um trono em súbita explosão!...
Papagaio real, diz-me, quem passa?
– É alguém, é alguém que foi à caça.
Do caçador Simão!...
Guerra Junqueiro.
A fotografia foi «tirada» daqui.