segunda-feira, março 31, 2014

Gostei de ler



Brincar aos riquinhos para brincar aos pobrezinhos

Assunção Esteves é uma personagem no sentido plano e caricatural do termo.
Nos romances, as Assunções surgem nos capítulos secundários para dar um colorido sociológico ou histórico ao cenário onde a personagem principal actua.
Ora, a nossa Assunção Esteves representa o colorido cómico de um certo Portugal, o Portugal da comédia snob, do nariz empinado por questões de nascimento. Sim, é o Portugal que brinca aos pobrezinhos, mas também é o Portugal que quer brincar aos riquinhos. Assunção Esteves encaixa na segunda espécie. Julgo que aqueles que brincam aos pobrezinhos tem uma palavra gira para descrever esta segunda categoria: possidónios. Palavra giríssima, sei lá.  
Como é evidentíssimo, a filha de um pobrezinho não pode chegar ao topo, é contranatura.
Apesar da origem humilde, Assunção Esteves aceitou o ethos pseudo-aristocrático da "Lesboa" que se repete em todas as povoações portuguesas com mais de, vá, 10 habitantes.
E a mutação não se ficou por aqui.
Segundo uma peça da Sábado, a Presidenta tem aquela obsessão típica pelo luxo. Ele é roupa de alta costura, ele é carteiras que custam 10% da sua reforma (valor da pensão: 7200 euros por 10 anos de trabalho), ele é um corrupio de assessores que trata como escravos coloniais, ele é gastos sumptuários: assim que chegou à Presidência da Assembleia, Assunção Esteves mudou a casa de banho do seu gabinete para não usar a mesma retrete do antecessor. Que magno problema viu Assunção Esteves no bumbum de Jaime Gama? 
Os regimes mudam, mas este Portugal não morre.
A comédia social parece que tem o dom da imortalidade.
Tal como em 1950, ainda temos fidalgos a viver em bolhas sem qualquer contacto com a realidade.
E, tal como em 1950, ainda temos fidalgos wannabe (gíria da língua inglesa, junção dos verbos "want" e "to be". É um termo pejorativo que se refere a pessoas que querem ser alguém ou algo que não são.), que querem à força brincar aos riquinhos para depois brincarem aos pobrezinhos. País giríssimo, sei lá. 

P.S.: Esta tem vergonha da profissão do pai. Outros há, que não tendo pai alfaiate, também lhes custa reconhecer a origem humilde. Outros ainda recusam-se a aceitar a profissão dos maridos e vai de os armar com antenas parabólicas, bem recheadas!!!!
Há de tudo, com ou sem armação!!!