Na madrugada do dia 24 de Fevereiro de 2022 deu-se início a mais um de muitos conflitos que têm oposto a Rússia e a Ucrânia.
Os representantes ucranianos denunciaram uma “invasão em larga escala” ao país – acusação que passou a percorrer por toda a imprensa –, e com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a confirmar que os ataques focaram instalações militares, pediu calma aos seus cidadãos e instaurou a lei marcial, fazendo um apelo aos que estivessem dispostos a “defender o país” para se alistarem.
Proibiu os partidos políticos e iniciou uma campanha de censura interna.
O signo da “invasão total”, no entanto, permaneceria – não só na imprensa, mas também nas palavras da NATO.
E o que a Humanidade ganhou com este conflito? Nada!
Pelo contrário, mortes, devastações e um cada vez maior empobrecimento da Europa com submissão aos interesses americanos.
Sendo a União Europeia uma crente fiel à ideia de que os mercados podem resolver magicamente todos os problemas, não foi só o mercado de gás, mas também o da eletricidade, que foram “liberalizados” sob as reformas do mercado da União Europeia.
Com um sistema de compra e oferta de gás tão liberalizado, é óbvio que a tendência, cada vez que um oficial norte-americano ou um jornal falam em “invasão russa”, é que esses produtores privados de energia ofereçam o gás por preços mais caros, dada a imprevisibilidade e instabilidade da situação, quando não a aproveitam para especular abertamente.
Ou seja: mais do que atender a um objetivo político-ideológico, repetir as palavras “invasão russa” instantaneamente torna o preço do gás e portanto também da energia na Europa mais caro.
Por meio desse garrote, os EUA pressionam os líderes europeus a tomarem uma postura mais agressiva em relação à Rússia, já que o preço do gás se reflete nos cidadãos europeus.
E eis como os Estados Unidos reduzem a sua estagnação económica e o sistema floresce.
Já a Ucrânia, palco do teatro das operações, sofre com todo este jogo económico dos Estados Unidos. Viu e continua a ver, sobretudo as suas pequenas cidades e aldeias do interior, a serem paulatinamente devastadas.
E nem Putin conseguiu a rápida vitória que teria previsto, nem a NATO conseguiu, por interposto Zelensky, correr com os russos da Ucrânia.
A guerra é a mãe e rainha de homens e escravos, veículo raivoso rumo à paz perpétua, o reino da vida ou da morte; o caminho para a sobrevivência ou a ruína.
A continuação da guerra vai devorando economicamente a Europa e num só dia gasta-se 10 vezes mais em armas na Ucrânia do que aquilo que seria necessário para socorrer oito milhões de sírios que dormem ao relento e morrem de fome e frio, sem auxílios internacionais, depois do terramoto de há semanas.
Hipocritamente só se fala na estratégia militar do conflito entre ucranianos e russos e esquecem-se as vítimas dos ditos desastres naturais e dos mortos no mar mediterrâneo que fogem à fome.
Hipocrisia total.
Em vez de se procurar a paz atiçam-se os beligerantes e os povos que submissos aceitam a guerra.
Em Portugal, um primeiro ministro dizia que “a paz só é possível com a vitória da Ucrânia e a derrota da Rússia”.
Pena é que não olhe para a miséria que devasta o país, em especial as regiões de fraca densidade populacional.
Agora que a dita coesão territorial foi mais uma vez, hipocritamente atirada ao lixo com o chumbo parlamentar da maioria absoluta do PS ao não permitir a abolição das portagens nas antigas SCUT’s.
A permitir que as autoridades fechem os olhos à cartelização de bens e serviços em prejuízo de milhões de portugueses.
Ao permitir que em Portugal os preços dos alimentos sobem mais do que na Zona Euro com as consequências conhecidas face ao reduzido e cada vez menor poder de compra dos portugueses desde os trabalhadores no activo como, e muito em especial, os reformados.
Essa era a guerra que devia preocupar um primeiro ministro e o seu governo e bem como uma maioria absoluta parlamentar que não passa de esfregão do executivo. Mas em termos de esfregões e outros produtos de limpeza ou se preferirem de cosmética, que dizer de uma comunicação social que, tal como o primeiro ministro, fala da guerra e esconde hipocritamente a miséria que os portugueses vivem.
Perder tempo em debates, programas e análises de uma sondagem, apenas uma sondagem, é revelador da falta de qualidade da comunicação social que serve o expediente do homem do balde.
Isto sem falar dos sucessivos escândalos que vão infestando uma democracia representativa que serve e serve-se da corrupção para atingir os seus gratificantes objectivos.
Mas tudo isto a par com o anúncio de que um Marcelo, elevado à categoria de Presidente da República, decidiu por livre arbítrio atribuir a ordem da Liberdade a Zelensky.
Não tenho pelas comendas nenhuma consideração, considero-as até uma espécie de Ordem Carnavalesca.
Desde que foram atribuídas a gatunos, falsários, corruptos e corruptores, salafrários e ultimamente até a devedores ao fisco, ainda mais reforço a minha convicção do Entrudo que reina em tais atribuições.
Tenham uma boa semana.