Na última crónica já
fizemos a análise a alguns pontos da Ordem de Trabalhos. Damos agora continuidade ao restante. E começamos com eventos.
Já nem vou perder tempo a falar do mais que anunciado chumbo da candidatura da Guarda a capital europeia da cultura. Um projecto desta dimensão não se coaduna com festas e festinhas de bairro, tendas de jogos e outros entretenimentos só para consumo local e dar dinheiro a ganhar a confrades. É preciso ambição. O projecto foi sempre elitista não conseguiu em tempo algum ser agregador de toda uma região e muito menos do cidadão comum. Não é por haver espectáculos e vencimentos principescos a comissários e parcerias com entidades de nomeada que se constrói uma candidatura desta envergadura. E não nos venham agora atirar areia para os olhos ao falarem de «metrópole rural». Foi uma derrota. E principalmente para o cidadão anónimo que viu o nome da sua terra, da terra onde nasceu, cresceu e heroicamente continua a resistir em viver a ser desta forma atirada para o cesto dos papéis.
Os donos dos poderes e promotores da iniciativa vão continuando a inventar desculpas e seguindo cantando e rindo. Hoje perderam, por culpa própria, mas amanhã já estão a falar de novos eventos para que a derrota se esqueça rapidamente.
Somos beirões. Moldados no granito que por causa alguma gostamos de perder.
Mas falemos de outros eventos também eles falhados.
Como se constatou este ano não houve Morte do Galo e nem vai haver a Feira Ibérica do Turismo.
Para justificar o falhanço destes eventos chamou-se à coação a tão bendita pandemia que é guarda chuva para tanta incompetência.
Justificar, como o fez o senhor presidente da Câmara da Guarda, dizendo que é preciso muito tempo para preparar tais eventos é uma desculpa que não colhe. Mas senhor presidente no Orçamento apresentado pelo executivo à Assembleia Municipal, em Dezembro, havia pandemia. O tempo já era reduzido para a realização dos eventos mencionados, como o senhor afirmou mas, espanto dos espantos, lá surgiu na rubrica Seminários, Exposições e outros similares a verba para tais eventos. E a verba que lá está é de 1 milhão oitocentos e trinta cinco mil euros. Muito dinheiro
para festinhas de pequena monta como quis dizer.
Afinal em que ficamos? Enganar mais uma vez os incautos guardenses? Promete-se e não se cumpre. Para se preparar o espectáculo da morte do Galo, nas palavras do senhor presidente, demorar-se-ia qualquer coisa como quatro meses. Ou seja teria que ser iniciada a sua preparação em Outubro. O Orçamento foi em Dezembro.
Diz tudo da incompetência.
Nem quero pensar que o Orçamento foi gizado, a exemplo de outras épocas e serões, usando o copiar e colar de uma qualquer folha de cálculo. Nem quero pensar nisso.
Quanto à Feira Ibérica de Turismo foi assumido pelo senhor presidente da câmara que o custo de tal evento ronda o meio milhão de euros. Uma brutalidade. Mas foi sempre
considerada a joia da coroa. Quem não se lembra da propaganda veiculada ao evento. Os sucessivos convites a personalidades da política nacional. E agora a joia vai parar ao prestamista? Só este ano é que se pensa no retorno financeiro para a Câmara? E o que a economia local ganharia? Isso não importa?
Entendidos e conversados.
No ponto relativo às alterações ao Orçamento o executivo camarário propõe um reforço para segurança de eventos. Mas que eventos? E são mais 150 mil euros.
E depois para um presidente que fala e fala em perdas de água estranha-se que na revisão orçamental
não apresente um único cêntimo para a reabilitação das condutas.
Mas afinal o que é isto? Continuar a ignorar o problema ou é mais
um embuste? No Orçamento de Dezembro a verba para a reabilitação
das condutas foi de 150 mil euros. Ridículo. Estamos a falar de mais
de 40% de perdas de água. Só para lembrar!
Já agora senhor
presidente acabe-se de uma vez por todas com o recurso a palavras
estrangeiras. Essa dos players pode soar bem em salões de burgueses
para impressionar. Em discursos de punhos de renda. Mas em Portugal
temos substitutos vários para o estrangeirismos. Em especial para os
players. Nem no futebol se utilizam tais termos e muito menos numa
Assembleia Municipal. Respeitemos a nossa língua a começar pelo
ditos representantes.
Literacia informática e consequente promoção
do concelho? Claro que sim. De qualidade e principalmente de acesso
gratuito para todos.
Estranha-se falarem do Centro Histórico da
Guarda e das acessibilidades nomeadamente a meios de socorro em caso
de incêndio. É um tema já por diversas vezes apresentado mas quer
em tempos idos quer nos actuais nada se fez nem se faz. Até que um
dia a catástrofe sucede. Aliás recordar as aberrações e atentados
contra o património cultural do Centro Histórico que se cometeram
em tempos idos. Temos memória. Ou será necessário lembrar?
Distribuição de verbas pelas freguesias é um assunto que todos os
executivos trazem para discussão dado ser uma forma, de entre muitas
outras, do beijar o anel ao chefe. Acabe-se de uma vez por todas com
mais esta bajulação e atribuam-se as verbas em função das
necessidades dos habitantes e não em prol do partidarismo. Estamos
no século XXI e o poder feudal já há muito que devia ter acabado.
Mas o país vive ainda na Idade Média. Espera-se e deseja-se que a
nova lei de financiamento das freguesias seja transparente e
equitativamente aplicada em função de critérios já definidos:
número de habitantes e área territorial. Todos outros critérios
manifestamente serão subjectivos e acentuarão as desigualdades já
existentes entre freguesias.
E por fim, que o tempo já vai longo,
falou-se de política educativa do concelho. De novo as celebérrimas
Cartas Educativas. O senhor deputado Virgílio Bento em nome da
bancada do Partido Socialista que agora parece e aparece a
representar, veio falar de tempos idos em que foi vice presidente da
câmara da Guarda sobre política educacional do concelho. Só que
esqueceu-se que estamos no século XXI e que as Cartas Educativas que
tanto elogia já há muito que perderam a sua utilidade e foram sendo
substituídas pelos Agrupamentos e Mega Agrupamentos. Ou seja, pelo
neoliberalismo economicista. Os consequentes centros educativos
resultantes da Carta educativa vão ficando sem alunos e sem
interesse para as estruturas de ensino existentes. Logo falar deles é
chover no molhado. E assim os contribuintes pagaram 37 mil e
quinhentos euros pela carta elaborada pelo Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Coimbra.
Mas importa
recordar que a Carta educativa proponha, entre outros objectivos, e
passo a citar: «garantir
a coerência da rede educativa com a politica urbana do município».
Ora tal objectivo nunca poderia ser alcançado por um lado porque as
escolas foram fechando e com a concentração dos alunos nos ditos
centros educativos os pais preferiam trazer os filhos para as escolas
da cidade. Resultado sobrelotação das mesmas. Turmas enormes.
Desdobramento
de funcionamento das escolas. Tudo aconteceu.
O
despovoamento acelerou-se. Mas a fixação nos centros educativos era
tal que se chegou a falar em seis centros. Depois ficaram apenas
três, sendo que um deles nem local tinha. Apontava-se ali algures
Algures em parte incerta. Mas
os contribuintes pagaram mais de cinco milhões de euros pelos
três centros educativos.
E
que dizer do encerramento da escola de S. Miguel e ocupar o espaço
pela GNR? Estranha-se, ou talvez não, só agora se ter lembrado
dessa transferência. Muitas vidas teriam sido salvas. A localização
da escola foi sempre
péssima ideia. Não possibilitar que os autocarros chegassem até
escola outro erro grave. A continuada degradação das
instalações escolares, sem qualidade para toda a comunidade foi
culpa dos vários
poderes.
E por fim o que fazer com um pavilhão desportivo construído para
servir a escola clubes e associações? Outro investimento mal
projectado e a necessitar urgentemente de requalificação. Falar de
futuro implica percebermos o que fomos, o que somos e o que queremos
ser. Uma
assembleia em que salvo raras e honrosas excepções há muita falta
de competência e nenhum confronto político.
Confrangedor.
Houve
pontos da Ordem de Trabalhos que nem uma voz se ouviu. Silêncio!
Alguém disse um dia que só existirá verdadeiro governo da coisa
pública se houver uma
oposição forte. Não se viu nem ouviu. Em
Abril há mais, águas mil.
Tenham
uma boa semana.
(Crónica Rádio F - 14 de Março 2022)