Dois meses depois do Partido Socialista ter ganho as eleições legislativas é apresentado ao país um governo. Não, não é um governo novo. É uma miscelânea de ministros. Uns que pouco ou nada fizeram na legislatura anterior e, o pouco que fizeram foi para destruir uma estrutura económica, financeira e social em prol do sector privado. Outro grupo pertence ao aparelho partidário a quem alguns comentadores de telenovelas chamam de delfins ou sucedâneos ao grande líder. E por fim uns envergonhados figurantes que aparecem a dar a cara numa fotografia do século dezanove. E o anúncio dos nomes começou logo com uma birra de Marcelo ao anular a audiência com Costa onde este iria entregar o bilhete com os nomes dos ministros. Marcelo fez o número da virgem ofendida. Marcelo desmarcou a audiência por, nas suas próprias palavras, ter tido conhecimento pela comunicação social dos nomes dos ministros em segunda ou terceira mão. Marcelo fez birra por saber a constituição do Governo pela imprensa e não ser a imprensa a saber a constituição do Governo através de Marcelo por interposta pessoa Marque Mendes. E é o mesmíssimo Marcelo que bufa à imprensa que Cravinho não está na Defesa porque ele Marcelo não quis que estivesse. Mas Costa depressa encontrou emprego a Cravinho. Da defesa passa para os negócios estrangeiros. Polivalência total. Marcelo tem que interiorizar que o seu tempo e modo acabaram com a maioria absoluta de Costa. Marcelo terá de regressar ao tempo das fotografias, beijos e abraços. O papel de Marcelo é o de um D. Carlos em final de monarquia. Já a desculpa esfarrapada do indigitado primeiro ministro para a anulação da audiência é no mínimo desajeitada. Dizer-se que houve uma fuga de informação para justificar o anúncio dos ministros pela comunicação social antes que Marcelo conhecesse os nomes é um desrespeito, mais um, pela inteligência dos portugueses. Todos sabemos o quão Costa e o Partido Socialista devem favores a certos pasquins. Logo aos olhos dos portugueses tivemos a repetição pela enésima vez de um comédia em dois actos: o da anedota e o da hipocrisia. Mais uma distração bem conseguida para desviar a atenção dos portugueses. Mas deixemos os factos que apenas servem para distrair o cidadão comum e que alimentam as revistas e jornais cor de rosa. Falemos da composição do elenco executivo. Importa desde logo realçar que Costa teve quase dois meses para limpar a mesa dos comensais e pouco ou nada fez. Falemos de alguns dos nomeados. Os que vão dar continuidade ao progresso da decadência. Lá temos uma Temido que irá continuar a obra iniciada na legislatura anterior de acabar com o Serviço Nacional de Saúde e a ascensão do privado. Quem tiver posses vai ao privado, mesmo que a qualidade dos serviços prestados seja má. Mas isso não interessa à tutela. Ninguém fiscaliza e quando há uma denúncia os serviços fazem figura de estátua de sal. Calados, caladinhos e fingir que algo acontece para tudo ficar no mesmo. A fuga de enfermeiros e médicos vai continuar quer para o estrangeiro quer para o privado. Já a super ministra Mariana, filha do amigo Vieira da Silva, ascendeu ao lugar mais proeminente da hierarquia governamental. Para quem lia os comunicados dos Conselhos de Ministros sobre restrições impostas devido à pandemia é um salto revelador da incompetência que reina em terra de cegos. Para o ministério da educação ascende um João Costa que foi criado do ministro Tiago. A continuidade é o lema. Um sistema de educação a necessitar de reformas urgentes mas capacidade para as conseguir de difícil execução. Desde a gestão das escolas até à definição de metas educacionais que promovam as aprendizagens e a qualificação dos portugueses tudo tem de ser feito. Mas nem de longe nem de perto se vislumbra tal capacidade a um outro Costa. Outra ascensão é a ministra da Justiça. Outra área a necessitar de reformas urgentes mas onde a continuidade no lodo que inunda a justiça em Portugal vai impedir. Depois chegam os do aparelho. Carneiro, Ana Catarina e Medina. O prémio da lotaria dos lugares governamentais coube a Medina. Como prémio de uma derrota estrondosa em Lisboa eis que Costa vinga-se dos eleitores e tira-o do desemprego. Coloca-o nas finanças. Quando todos sabemos que a crise vai assolar de forma grave os portugueses. Repetir cenários antigos de um Centeno & Leão não resultam. Já gastos e o tempo das vacas magras chegou. Nem a bazuca o vai ajudar. E que dizer de um outro Costa, já são três, pai do plano de resolução e resiliência que tantos milhões vai dar a certos parasitas. Alguém que jurava a pés juntos que ir para o governo nunca. Curioso, ou talvez não, logo a acumular duas pastas a da Economia e pasme-se a do Mar. Um gestor da área dos petróleos com a pasta do Mar diz tudo da incapacidade de trazer gente para o governo. E que dizer de um Adão e Silva na pasta da cultura? Agora, definitivamente, é que a Ofélia vai ter um namorado. Já quanto à continuidade da ministra Godinho à frente do ministério da segurança das misericórdias e incompetente declarada na defesa do trabalho é a resposta aos empresários que tanto clamam por ajudas. Ainda do aparelho partidário a ascensão de um Cordeiro a ministro do ambiente e da acção climática. Costa sabe como agradecer a confiança canina. Já a continuidade de Pedro Nuno Santos no ministério do ferro velho e na decisão da TAP é um delfim que Costa gosta de controlar de dentro para fora. Sempre preso à estaca e de rédea curta. Já a continuidade da Abrunhosa é uma cobertura. A dita descentralização é uma imposição que as câmaras não querem assumir. Não querem ser, nas palavras de Rui Moreira, presidente da câmara do Porto, os tarefeiros da saúde e da educação. O que vão fazer os regedores com tantos funcionários? Responsabilidades sem garantias financeiras quem as quer. Abrunhosa em palpos de aranha. E que dizer da continuidade de uma Maria do Céu à frente do ministério da agricultura e agora da alimentação. Alguém a ouviu na legislatura anterior? Nem no célebre caso dos emigrantes de Odemira. E por fim um ministério dos Assuntos Parlamentares. Uma estranha forma de dar guarida a alguém. Agora que Costa tem maioria absoluta para quê um ministério dos assuntos parlamentares. Será que não confia num Santos Silva para líder do Parlamento? Tem toda a razão. Quem pode acreditar numa pessoa que dizia que queria voltar a ser professor e sair do governo e sem pestanejar aceita ser a segunda figura do Estado é algo de muito estranho. O tempo tudo esclarece. Um governo curto e enxuto? Curto não é de todo. O terceiro maior em número de ministros. E nada enxuto, mesmo em época de seca. Neste elenco falta um Cabrita. Mas não perdem pela demora. A ter em atenção a tantos broncos anunciados, cabritas não vão faltar, com toda a certeza. Cordeiro e Carneiro já há.
Tenham uma boa semana.
(Crónica Rádio F - 28 de Março de 2022)